O CABOCLINHO CACHACEIRO E O ANDOR
Era um bom rapaz se estive sóbrio mas quando tomava sua pinguinhas, e não eram poucas, se tornava impertinente, uma companhia indesejável a qualquer um, tanto é que na festa do padroeiro do bairro, ele apareceu sorrateiramente e como se diz o ditado, onde o ferro vai, a ferrugem vai atrás, acabou descobrindo que ofertavam cachaça gratuitamente, ele tirou só não bebeu mais porque logo o festeiro foi avisado e para evitar o desconforto de aturarem o pobre rapaz embriagado, suspenderam a oferta de aguardentes apesar de ser um pouco tarde pois o danado do caboclinho já havia exagerado.
Apos as comilanças, doces ofertados gratuitamente era uma tradição da festa, coisas que hoje já não existem mais, a procissão enfim saiu destino a capela do bairro que ficava a uma distancia razoável da casa do festeiro. Todos seguiam a procissão envoltos nos cantos, ladainhas e a reza do terço, o caboclinho embriagado também seguia, perturbando todos com suas macaquices. O Santo ia à frente, em lugar de destaque, num andor devidamente enfeitado para tal fim e carregado pelos homens de bem daquelas paragens. A mulheres puxavam o terço, Zé Fogueteiro acompanhava a procissão do lado das mulheres e a cada “Gloria ao Pai ao Filho e ao Espírito Santo” ele soltava um rojão que ecoava pelo vale deixando no céu azul daquela tarde, pequenas nuvens de fumaça e as crianças disputavam o canudo jogado fora, assim seguia a procissão vagarosamente pela estrada de terra batida, rumo a capela de São Sebastião, o Santo padroeiro do bairro.
A certa altura, o caboclinho ainda alto pela cachaça, corre a frente da procissão, fazendo um sinal para pararem com a procissão, grita:
_______ Olha a mangueira ai gente!
Os homens enérgicos associando o fato ao grito ao da famosa escola de samba do carnaval carioca, levados pela ira com tal deboche frente ao Santo, vendo tudo isso como uma heresia por parte do caboclinho, agressivamente tiram o intruso da frente e a procissão seguiu livremente pelo caminho e a alguns metros adiante, ao passar por debaixo de uma frondosa arvore a margem da estrada, um galho atinge o santo do andor na altura do pescoço decepando a imagem. Todos ficam impressionados com o acidente, uns avaliam como castigo dos céus, outro como um descuido dos fieis, verdade é que a procissão parou devido ao ocorrido e um por um chegavam até a imagem, faziam o sinal da cruz e lamentavam tal incidente, naquelas condições e cambaleando veio também o cachaceiro que olhando para o santo decepado resmunga:
_______ Pois é! Avisa... eu bem que avisei!
Somente o caboclinho embriagado teve a percepção que não poderiam passar com o andor por debaixo do pé de manga a beira do caminho, mas como palavra de bêbado não tem valor, perturbados com suas palhaçadas, ninguém deu ouvidos.