CÊ VERSUS VOCÊ

CÊ & VOCÊ

O conhecimento como a tecnologia, são muito importantes, mas o trabalho ainda é o melhor caminho.

Dois compadres se encontram quando iam capinar a roça:

- Ô compade, cê tá bão?

- Tô nada, sô.

- Po cá de quê?

- Tô numa inhaca danada.

- Mas cê tá tão vistoso!

- Pode sê po fora porque po dento, tá tudo triste.

- Mas home, cê tinha que tá feliz, sua fia tá estudano, tá uma beleza danada naques vestimento de cidade.

- É cumpade, a vida tá me dando umas rasteira. Prantei minha roça, meus café, trabaei iguá um doido para podê istudá meus fio. Meu pai me insinô que todo mundo que trabaia um dia vence na vida. Puis é, não sei po caso de quê só tô andando pa trais. Inté peguei uns cobre no banco pra plantá minha roça; na hora da coieta num é que meu mio num valia nada? Dei ele quase dado pros outro e os cobre num deu pra pagá nem o banco. Agora eles qué tomá minhas terra. Pensa bem, compade, o que que eu vô fazê sem meu ranchinho, sem minha lagoinha, sem minhas galinha, sem meus porco? Falaram pra mim vendê minha vaca mimosa, mais eu num dô conta. Cumé queu vô vivê sem o berro da mimosa?

- Quenta não, tudo na vida tem um jeito, cumpade. Tão falano que lá na cidade tá todo mundo na pindaíba. Os que tem uns cobre é só os político e os dono do banco.

- Mas o cumpade Zé Ferino me falou que o nosso presidente atuar, além de num aluí nada, foi no Paraguai e num pagô o avião?

- Tá vendo? Se o presidente num tá pagano, porquê que nóis precisa pagá?

- Mais meu pai me ensinô que quem deve tem que pagá, quem planta coie, quem trabaia vive e num precisa sofrê só porque é um trabaiadô.

- O mundo tá mudano compade.

- Será que é o tar do finar dos tempo?

- Eu acho que é um trem que tem lá na cidade e o povo fica veno o dia intêro.

- Será que num é por caos de quê descobriram que a terra é redonda e começaram a chamá ela de grobo?

- Mais esse num é o nome da tar da televisão?

- Não cumpade, esse aí só aproveitô o nome. Cumo a terra é redonda, o povo mais istudado chama ela de grobo. Agora os político e os banqueiro tão tentano grobalizá.

- Cumé que funciona isso?

- Isso é a mema coisa docê armoçá a mema comida minha.

- Mais a cumade gosta de torremo na gordura e minha muié gosta dele curtido na fumaça do fogão.

- Puis é cumpade, tão falano que essa tar de grobalização vai proibí nóis de criá porco porquê nosso chiqueiro fica munto sujo.

- Sujera é lá na cidade. Os tonto mijando pos passeio, todo mundo amuntoado, nem ventá lá num venta! Pa gente trocá de rôpa tem que fechá a janela senão os outo fica oiando. Esses dia fui visitá minha cumade, muié do falecido Zé do Gôlo, errei a porta, cumpade. Entrei numa casa com um tanto de muié pelada e mais um punhado de home veno. Que vergonha cumpade, saí de lá correndo com as mão na frente cum coisa que tava defendeno coice de boi.

- E o dia que fui no velório da muié do cumpade Zé Firmino. Achei uma discompustura, a muié ali, difunto fresco, as fia parou de chorá e ligou a tar da televisão. Era a tar da novela, o memo home ficava com uas treis muié num memo dia. Tive que mandá minha fia rezá na igreja de tanto que os oios dela briava.

- Cumpade, vão trabaiá, senão o dia passa e eu ainda tô devendo lá pro banco.

- Fiquei sabeno que daqui uns dia nóis vai tê de pagá a água que nasce lá no arto da serra e nóis bebe aqui na bica. Nóis vai cumê os tren da cidade, tudo embruiado nos paper.

- Ô cumpade, isso num chega aqui não.

- Chega cumpade. Ocê já num foi arrumá dinheiro no tar do banco?

- Mais foi só mucadiquinho! O queu peguei num dá nem o salário do tar do vereadô.

- Mais foi, num foi?

- É cumpade, o pió dos pió é queu fui.

- ...

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 23/10/2010
Código do texto: T2573682
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