MULATO e SEU DOTÔ

Ora pois, sô mulato di cor e di nome,

Numa tarde dessa, tava eu sentadu nu bar di Ganuario Genebra "Genu", pra quem li que bem, ai chega seu dotô.

Homi branco feito a ropa, mai cum cara de boa pessoa.

Senta du meu ladu, pede uma cachaça e nois cumeça a pruzia.

Seu dotô fala bunito, fala de genti que tem um tar de personalidade má, e ele fala... Fala...

Dai dipois de muito dito, intindi que o dotô tava é cum o coração apertado.

Dai intão, dipoi de muito chororo, eu, na mia burrice de jeca nordestino, que num sei, si não se malandro de bão coração, disse pru seu dotô.

Genti, seu dotô, tem di tudo quantu há.

As veis pra num minganá cum o caboco, eu firmo no gingado dele

As veis nu jeito de sua labuta

E otras veis nu modu cumo ele é cum us cumpanheiro.

Mai seu dotô, cum perdão da má palavra, seis pricura tantu nos livro pra saber du otro

E num vê o que vê.

É cum ele que nois vê

E é nele que se vê, seu dotô

E até ti digo que vi nele um nó no seu coração

E é pur conta desse nó, que o sinho tá aqui, pruziando cum matuto cumo eu.

Pois saiba Mulato

Quem é burro como jegue nordestino sou eu

Pois não vi no que vê

Que estava sendo traido por um irmão

E perdi o que mais me agradava ver

"Se ver é importante, mais ainda é entender o que foi visto, onde se vê".

Autora:

Teresa Cristina Kobayahi

DATA: 16/02/2004