Rosa e Carminha
Rosa e Carminha
Maju Guerra
Rosa e Carminha eram grandes amigas, embora os temperamentos fossem totalmente opostos. Rosa era séria, compenetrada, falava pouco, já a Carminha era falante, brincalhona, esfuziante. As duas comentavam que, juntas, formavam uma pessoa bastante interessante. O que elas tinham em comum era o gosto pelas viagens. Viajavam todo ano, conheciam já não sei quantos países. Apesar de somente falarem o português, conseguiam ser entendidas e entendiam os diversos idiomas, coisa bastante misteriosa para todos. Elas levavam uns livrinhos milagrosos, nunca houve problema algum.
Naquele ano após a viagem, o pessoal conhecido se reuniu na casa da Rosa pra saber das novidades. Carminha falava praticamente o tempo todo, nenhum detalhe lhe escapava. Ao final, começou a rir, precisava contar o que havia acontecido com a Rosa em Londres. Rosa não se sentiu muito à vontade, mas controlar a Carminha era tarefa inglória. Pois bem, as duas procuravam uma loja em uma rua tal e não sabiam ao certo onde ficava. Lá se foi a Rosa pedir informações a uma senhora de aparência simpática, ela parou para atendê-la. A moça sacou o livrinho milagroso e começou a perguntar. Ao fazer isso, precisou abaixar a cabeça pra ler o que estava escrito. Pergunta feita, olhou para a senhora a encará-la absolutamente calada. Carminha desandou a rir, Rosa não compreendeu nada. Resolveu perguntar outra vez, não ouviu resposta. A senhora, espantada, continuava a olhá-la. Nesta altura, Carminha estava às gargalhadas. Rosa, sem graça e teimosa, perguntou mais uma vez, sem resposta de novo. Carminha, se contendo, resolveu intervir:
- Amiga, não adianta perguntar em língua nenhuma, a mulher é surda e muda. Quando você abaixa a cabeça, ela faz os sinais e você não os vê. Não lhe contei logo, porque não conseguia parar de rir diante da cena absolutamente hilária, você precisava ver sua cara...
Maria Julia Guerra.
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Obs: O “causo” é verídico.