PICA-PAU NO CABARÉ
Há alguns dias um conhecido meu contou-me um fato acontecido na cidade de Sítio Novo do Maranhão.
Pica-pau foi o apelido dado ao senhor Nermesio, por seu melhor amigo, Pedro. O apelido surgiu pelo fato dele ser mulherengo e viver cantando toda mulher que passava.
Já com setenta anos de idade, cego, em virtude de uma catarata não tratada a tempo, ficava todo o tempo deitado em sua rede, na varanda da casa, esperando algum amigo ou conhecido para contar suas piadas e falar de suas fantasias.
Naquele dia, quando Pedro apareceu em sua casa, ele disse ao amigo:
- Pedrinho, quero que você me leve hoje ao cabaré.
Pedro que não sabia dizer não ao amigo, tentou dissuadi-lo da idéia e então disse:
- Pica-pau e se dona Tilde ficar sabendo? Ela não vai mais querer falar comigo!
- E você vai dizer para ela?
- Claro que não, Pica-pau, mas, você sabe que a cidade é pequena e os boatos logo correm.
- Não se preocupe com isso Pedrinho, ninguém vai saber.
- Tudo bem, você é quem sabe!
O velho chamou a esposa e disse-lhe:
- Tilde, o Pedrinho vai me levar à igreja, pois estou pressentindo que vou morrer breve.
- Está bem, Nermésio, vá com o Pedro que eu fico, pois preciso lavar algumas roupas.
Pedro que era muito amigo da família, pegou o velho pelo braço e saiu andando pela cidade. Deu várias voltas e depois voltou à casa dele, sem falar-lhe onde estavam.
Quando entraram, o velho que pensava estar no cabaré, a primeira voz que ele escutou foi de Tilde, sua mulher e neste momento esbravejou com ela.
- Tilde, sua sem vergonha, o que está fazendo aqui, você disse que ia lavar roupas e veio direto para o cabaré?
A esposa que de nada sabia, pois Pedro não lhe havia dito, retrucou:
- Seu velho safado e sem vergonha, você está em sua casa e não no cabaré.
Quando ele tomou consciência do que o amigo fizera, calou-se e foi para sua rede. Depois deste dia, ele ficou mais de três anos sem falar com Pedro, pela peça que este lhe pregara.
A esposa, no entanto, vivia elogiando a atitude do amigo.
Dois meses depois, que Nermésio refez sua amizade com Pedro, faleceu.
A viúva ainda vive e quando lhe perguntam sobre o acontecido, ela simplesmente diz:
- Pobrezinho do Nermésio, nem sei o que ele iria fazer no cabaré, já que ele estava morto há muito tempo.
08/10/10-VEM