O VAQUEIRO E O ESPELHO
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Recontando Contos Populares
Conta-se que, lá pelos idos de antigamente, um vaqueiro resolveu fazer uma viagem até a cidade grande. Nas suas andanças por lá, viu em um bazar, pela primeira vez, um espelho - objeto até então desconhecido para ele. Quando olhou sua imagem refletida no espelho, julgou reconhecer ali o rosto do pai. Maravilhado com aquela magia, comprou o espelho.
Ao chegar a sua fazendinha, carregando na algibeira sua compra mais preciosa, foi ao celeiro e guardou-o num pequeno baú, onde também guardava sua vestimenta de vaqueiro. Sempre que se sentia triste e solitário, ia ao celeiro, abria o baú, e ficava contemplando o rosto do pai.
Sua mulher - que nada sabia do espelho - começou a notar que sempre que ele ia ao celeiro, saía com um aspecto diferente, isto é, com um "ar de felicidade". Desconfiada, começou a assuntá-lo. Por uma fresta na madeira, viu que o marido abria o baú e ficava longo tempo olhando para dentro dele.
Um dia, depois que o marido saiu para uma vaquejada, ela foi até o celeiro, abriu o baú e viu espantada, dentro dele, o rosto de uma mulher. Cheia de ciúme, esperou o marido chegar e pediu explicações sobre a mulher que ele guardava no baú. Mas o vaqueiro sustentava que era o seu pai que estava no baú. Armou-se então uma grande confusão familiar. Por sorte, uma beata tida como muito instruída e que não sabia mentir, ficou sabendo do caso e querendo esclarecer de vez a discussão, dirigiu-se a casa do vaqueiro. Lá chegando, foi logo pedindo que lhe mostrassem o baú. O vaqueiro e sua mulher a levaram até o celeiro e lhe mostraram o baú. A beata pediu-lhes que esperassem lá fora, enquanto veria o que havia no baú. Passado alguns minutos, ela grita de dentro do celeiro:
— Ora gente, vocês estão brigando em vão: nesse baú não há homem, nem mulher, mas somente uma beata como eu! ®Sérgio.
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Nota sobre o texto: Este conto é uma adaptação de uma história japonesa do século VIII.
Imagem: Óleo sobre tela de José Ferraz de Almeida.
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