O CAIPIRA E A REVISTA

Criado la no meio do mato, o menino cresceu, virou gente, moço forte, robusto, caboclinho atraente e como todo bom caboclo, achou que chegou o momento certo para adquirir sua arma de fogo para proteção pessoal, costume daquelas bandas onde vivia, afinal de contas cada morador daquelas redondezas, alem da espingardinha rabo de cutia ou as cartucheiras aos mais afortunados ferramenta indispensável para as caças triviais, a maioria portava também uma arma para defesa pessoal, um revolver era muito caro, mas uma garrucha, arma pequena que alem de ser bonita, era de fácil porte, esta sim era o sonho do caboclinho.

Como a lavoura aquele ano produziu bem, a venda do excedente propiciou um dinheirinho extra, como nunca tinha saído da roça a não ser para ir ao pequeno patrimônio e festas dos bairros vizinhos, trajeto que sempre fazia no lombo de seus animais, não era atinado as viagens de trem pois nunca tinha entrado em um, achou melhor chamar o compadre, que já era bem mais vivido, para irem até a cidade grande comprar uma garrucha para sua defesa pessoal, assim o fez e no dia marcado, lá estavam os dois na modesta estação ferroviária do patrimônio e rumaram para a cidade grande em busca da tal objeto.

Ele, homem rústico do sertão, ficou maravilhado com a viagem de trem que durou e torno de umas duas horas até a cidade grande, período em que por algumas vezes passou o garçom do trem gritando, oferecendo seus produtos.

______ Olha o guaraná! ... Sanduiche de mortadela! ,,, conhaque! Conhaque! .. choooocolate! Olha o choooocolate!

Finalmente chegaram a cidade Grande, o caboclo ficou maravilhado e assustado com aquele povaréu, nunca tinha visto tanta gente junto e foram logo a procura da tal arma, não demorou muito e encontraram numa casa de comercio especializada, uma linda garrucha importada, não estava nada barata mas o vendedor garantiu que era uma boa arma e que sairiam dali legalizado, como gostou do produto acabou adquirindo. Todo garboso e desajeitado portava aquele troféu; sua primeira arma de fogo, orgulho do caboclinho, porém como sempre ouvia falar que era preciso tomar cuidado com as “revistas”, procedimento adotado pelos policiais para evitar que pessoa portassem armas ilegalmente, lá no povoado mesmo, por época de uma eleição, passou por um constrangimento muito grande quando o revistaram e por causa de um bendito punhalzinho, quase acabou em cana, embora não sendo o seu caso, pois havia comprado a garrucha com documentação, mesmo assim ficou perturbado pois e se naquele lugar estranho algum soldado o abordasse para tal procedimento, assim para evitar surpresas desagradáveis mantinha a arma muito bem escondida numa sacola, porem morrendo de medo, parece que todos os olhares se voltava para eles.

De volta à estação ferroviária da cidade grande, parece que o trem de volta para o pequeno povoado demorou um século para chegar, embarcaram e o trem partiu, decorridos um bom tempo, o silencio no vagão só era quebrado pelo patic-patac patic-patac tatac-tatac das rodas nos trilhos, quando entra abruptamente a porta do vagão um homem e grita:

_______ Revista! Olhaaa aaa reviiista.

Num relance o caboclinho precavido abre a janela do vagão e lança para fora a sacola contendo a preciosa arma. Seu compadre e companheiro de viagem não entendendo nada pergunta ao rapaz o porque desta atitude e ele explica.

_______ Ocê ta maluco cumpadre, se o sordado pegá nois cum esta arma de fogo, neste lugar estranho, já imaginô que cumpricação que nois tá invorvido sô.

O caboclinho nervoso só não percebeu que não havia soldado algum ali, era apenas o garçom do trem que estava oferecendo seus produtos, desta feita, Revistas, jornais e livrinhos de cordel.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 18/09/2010
Código do texto: T2505125
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