Quem Não Faz Leva
Esta é mais uma das histórias de “Caboclo Ferreira”, personagem que viveu há muito tempo na cidade de Prata – PB. no Cariri paraibano. Como no cinema, todos os personagens citados são fictícios, qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, só pode ser mera conhecidência.
Josafá era um grande comerciante da cidade de Prata, era ele quem abastecia de viveres boa parte da população da cidade, dos sítios e fazendas da região. Josafá além da sua casa de secos e molhados, tinha junto ao seu estabelecimento comercial um grande armazém onde era comercializados: couros, peles e cereais; comercializados, não era bem o termo certo, Josafá gostava mesmo era de trocar as suas mercadorias pelos produtos trazidos pelos caririzeiros nos dias de feira, redundando quase sempre em grandes lucros em proveito próprio as suas trocas. Ele mantinha os seus clientes com rédea curta, isto é, sempre dava um jeito do freguês lhe ficar devendo alguma coisa, era uma forma da pessoa retornar a comercializar com o mesmo..
Num determinado dia de feira, entra no armazém do Josafá, um morador da região, conhecido pela sua truculência, o homem era grosso que só “papel de embrulhar pregos” e bruto de dar coices no vento. Esta pessoa era “Biu do Covão”, segundo comentários na cidade, depois de “Caboclo Ferreira” era o homem mais valente do lugar.
“Biu do Covão” entra no armazém trazendo debaixo do braço, um pequeno fardo contendo pelo menos umas vinte peles de “tejo e/ou tejuaçu", ele pretendia com a venda daquelas peles fazer uma grande feira para a família, uma feira que durasse pelo menos um mês. Josafá passou a examinar as peles e mentalmente começou a fazer os seus cálculos. Por sua vez “Biu do Covão” imaginava que aquelas peles lhe renderiam pelo menos um conto de reis. Josafá termina de examinar as peles e informa para o cliente que as mesmas estavam avaliadas em apenas quinhentos mil reis. - Biu fica possesso com a avaliação das suas peles e passa a discutir com a Josafá, culminado com uma briga entre ambos, tendo o comerciante levado a pior.
Depois que o Josafá apanhou dentro do seu estabelecimento comercial na frente dos seus fregueses, ficou acabrunhado, êle juros que se vingaria daquela desfeita. Acontece que “Biu do Covão” era madeira de dá em doido, por mais que Josafá tentasse não tinha a mínima condição de se vingar.
Alguns dias após o acontecido, “Caboclo Ferreira” vai até o armazém do Josafá, ele estava sem dinheiro e pretendia fazer uma feira, meio encabulado, chama o comerciante num canto do armazém e lhe fala fiado. Josafá antes de dar uma resposta a “Caboclo Ferreira” arquitetou uma maneira de se vingar do “Biu do Covão”, se aproxima do Ferreira, e . . .
- “Caboclo Ferreira quer ganhar dois contos de reis ?
- Pra fazer o que “seu” Josafá ?
- Coisa besta “Caboclo” basta você dar uma pisinha numa
determinada pessoa
- Posso saber quem e essa pessoa “seu” Josafá ?
- Oxente homé não é “Biu do Covão” !
- Biu é meu cumpade, maí como tô liso vô aceita a empeleita !
No mesmo dia Caboclo Ferreia” manda um dos filhos até a casa do compadre, para avisar que no dia seguinte iria almoçar com o mesmo.
Os compadres por serem homens valentes se respeitavam mutuamente, por este motivo “Biu do Covão” mandou a sua mulher matar uma galinha gorda para esperar o compadre. No dia seguinte as 10 horas da manhã Ferreira chega a casa do amigo. Os dois ficam conversando no alpendre da casa enquanto a mulher terminava de preparar o almoço, enquanto isso tomaram várias lapadas de cana. “Caboclo Ferreira” não era muito de “arrodeios”, e foi logo falando para o compadre o motivo da sua visita:
- Meu cumpade Biu, eu não vim aqui para aimoçar não.
Me dero dois contos de reis, prá lhe dá uma pisa, mai
cumo você é uma pessoa que muito estimo: quero lhe
fazer uma proposta: Eu lhe dô um conto de reis e fico
com outro. Se alguém perguntar por aí, o senhor diz que
lhe dei uma peiadas, ta certo cumpade ?
- Que isso cumpade, eu não só homé dessas coisa
não. E tem maí, num so home de mentira !
- Apois cumpade, me dê o meu conto de reis de vorta !
Agora você vai apanhar de verdade por não saber
mentir e pode dizer para os seus pareceiros, que,
apanhou de verdade de “Caboclo Ferreira” !
E HAJA PÁU. . .