Tablete Santo Antônio
Houve um tempo em que nossa casa parecia mais uma pensão, porque quase todas as pessoas lá da cidade que nasci,quando vinha à Goiânia, hospedava em casa. Certa vez, veio uma grande amiga de minha mãe, ficou em casa por mais de dois meses. Veio porque estava doente e precisa de tratamento médico, até aí tudo bem. Coisa mais que normal para o cotidiano de uma família com raízes profunda no interior de Goiás.
O problema se deu quando ela aí voltar para casa, porque querida ir bonita para o marido, foi aí que a coisa toda fedeu, o leite derramou. Passagem comprada, dia certa para ir embora, ela pedi para minha irmã ir à farmácia comprar uma tinta para cabelo chamada Tablete Santo Antônio na cor preta.
Minha irmã foi até a farmácia e comprou a tal tinta. Essa tinta parece um comprido, é dissolvida na água. Minha irmã lê as instruções de uso, porque a amiga de minha mãe coitada era analfabeta. Isso é coisa de alguns pais da época em que minha mãe e a amiga dela criança que achava que o filho não precisava ir à escola e sim trabalhar. Principalmente as filhas, porque se ela aprendesse a ler e a escrever, iriam escrever carta para os namorados delas. Voltando ao causo, Ela fez exatamente o que a instrução mandava. Só que, não tinha instrução dizendo que não devida deixar a tinta pela pele. E a tinta escorreu pelo rosto, pescoço e ombro.
Quando ela lavou os cabelos depois do tempo estabelecido na instrução, quem disse que a tinta quis sair da pele. Ela ficou desesperada, chorou. Porque o rosto, o pescoço estava risco de tinta feito uma zebra, segundo minha mãe me contou depois, porque eu não vi estava no trabalho quando isso aconteceu. O desespero dela foi tanto coitada, que lavou com sabão em pó, detergente de lavar louças, água sanitária, até esponja de aço usou e nada da tinta sair de sua pele que era bem branca. E o que era pra ficar bonito, virou zebra pura. E ainda foi embora para casa de ônibus com a pele mascarada.
Quando chegou do trabalho correndo como sempre para arrumar para ir para a faculdade à noite, minha mãe vem me contar o acontecido, quase não dando conta de contar de tanto rir. Aí perguntei, - Mãe! A senhora riu assim perto dela?
Ela disse,
-Claro que não! Segurei-me porque precisava ajudá-la. E também se risse, ela ficaria magoada comigo. Prezo muito a nossa amizade que vem desde que éramos crianças. Como também na hora toda a minha preocupação era ajudá-la. Somente agora é que estou rindo.
Bom! Nunca ficamos sabendo como foi na casa dela e nem dentro do ônibus, porque ela nunca. Minha mãe sendo uma mulher muito discreta, não pergunta. E nos proibiu de perguntar ou mesmo tocar neste assunto com outras pessoas da nossa cidade. Mas, pelo tanto que minha mãe ria quando me contou, posso imaginar como deve ter sido no ônibus e na cidade, porque cidade pequena onde todo mundo conhece todo mundo. Você pode imaginar como é.
Lucimar Alves