OS DOIS IRMÃOS
Enfrentando a dificuldade das bravias matas, embrenhados no rude sertão daqueles tempos, um lugar onde só se poderia chegar trilhando pelas picadas em meio a mata fechada, afastado da povoação e pode se dizer, até mesmo da civilização, em meio a alguns bugres arredios e animais selvagens, viviam dois corajosos irmãos na ambição de desbravar aquelas terras férteis e vencerem na vida. Eram homens rudes, um deles muito religioso, tanto é que todos os domingos, vestia seu terno branco de linho e saia de casa ainda de madrugada para ir ao povoado assistir a missa e fazer suas devoções, porem toda tarde de domingo chegava embriagado em casa, isso quando não se envolvia na jogatina ou arranjasse alguma encrenca por lá e acabasse sendo engaiolado pela milícias do lugarejo, aparecendo em casa só na segunda feira.
O outro rapaz já tinha outro modo de ser. Era mais recatado, quase não ia ao povoado, a não ser por motivo de sobrevivência, porem toda manha de domingo, enquanto o irmão mais velho se dirigia para a missa, ele pegava sua espingardinha Rabo de Cutia, a mucuta com munição e embrenhava mata adentro para caçar, passando o dia no mato e só voltando para casa ao entardecer.
O irmão mais velho vivia dando puxões de orelhas, dizendo que homem que se preze, necessita tomar um decisão na vida, ter uma religião, ir a missa rezar pela nossa salvação e pela alma dos antepassados, não deve ficar metido na mata feito bicho selvagem. O rapaz mais novo ouvia tudo calado e simplesmente respondia que ele tinha suas devoção e que não precisava ir a Missa todo domingo para que suas preces chegassem a Deus, pois de nada valeria se depois de assistir a missa, se entregasse ao vicio do álcool ou do jogo, e assim passavam a semana discutindo e no domingo seguinte a mesma rotina de sempre, saiam juntos e seguiam a pé pela mesma picada, única via de acesso a propriedade, ate onde o irmão mais novo embrenhava na mata fechada para suas caçadas e o mais velho seguia rumo ao povoado para assistir a missa.
Certo dia o irmão mais velho resolveu sondar o outro, depois de despedirem num determinado ponto da trilha, como era de costume, o irmão mais velho resolveu voltar e seguir o outro mata adentro. Num determinado ponto da mata onde existia uma clareira e um toco de uma arvore derrubada, o irmão mais novo arrumou a espingarda numa ramada, colocou a mucuta no galho de um arbusto, ajoelhou , fez o sinal da cruz e pôs-se em oração. O irmão mais velho ficou atônito quando viu quando que, parecido com um anjo do Senhor desceu do céu e pousou sobre a cepa e ali permaneceu enquanto durou a oração do irmão. A seguir o irmão pegou seus apetrechos e saiu para a caçar como de rotina, o outro retornou para casa e a partir de então passou a tratar o irmão com mais dignidade e embora continuasse indo as missas aos domingos, deixou para sempre o vicio do álcool e do jogo.