FLAGRA
 
 
Seu amante havia passado para pegá-la, a fim de ficarem algumas horas juntos. Ela decidiu que iria em seu próprio carro e pediu para ele segui-la. Saíram de onde estavam, uma BR nos arredores da capital e ela, embora tenha avistado vários motéis no caminho, continuou seguindo em frente. Decidiu por ficar num que eles nunca haviam freqüentado. Falaram com a recepcionista para conseguir entrar com os dois carros. Ela foi na frente e seguiu até o número do quarto indicado. Qual não foi sua imensa surpresa ao avistar, na garagem anterior à sua, o carro de seu próprio marido ! Seu coração acelerou de tal forma que lhe faltou ar. Não conseguia definir se sua confusão mental era pelo fato de pegá-lo no flagra ou se pelo medo de ser flagrada. Arrancou no carro em direção à saída e estacionou na rua, logo em frente, seguida do amante que, parado atrás dela, não entendia o que estava acontecendo.
Ela ligou seguidas vezes para o celular do marido, até que ele atendeu e falou, com um ar levemente irônico, que estava resolvendo um problema e que assim que pudesse retornaria a ligação para ela. O pior foi ouvir um riso abafado ao fundo. Aquilo a tirou do sério e da razão perfeita de seu juízo. Ligou novamente para ele e avisou que sabia exatamente onde ele estava. Ele negou, negou e negou. Ela afirmou novamente, com veemência. Já mudando a voz para um tom apreensivo, ele começou a acreditar que ela sabia bem mais do que deveria.
Falando com ele ainda, ela avançou para a entrada do motel novamente. Deixou o amante plantado no carro, lá fora, e mesmo ele já estando a par de que ela havia visto o carro do marido no local, ficou atordoado com sua atitude.
Ela estacionou o carro trancando o do marido e passou por baixo do toldo que servia de portão para a suíte. De repente, uma falsa calma apoderou-se dela. Estava trêmula mas, ao mesmo tempo, conseguiu controlar-se quando viu o marido e a amante já dentro do carro, prontos para deixar o local.
O tempo parou. Ela parecia estar suspensa no ar. Sua cabeça formigava.  
Inclinou-se para olhar  a cara da amante, conhecer, saber quem era a tal.
Depois, observou a cara do marido, que estava absolutamente sem graça com toda aquela situação.
Aquilo estava acontecendo com ela, mas não parecia ! Ela sentia-se mera espectadora daquela absurda situação...falou poucas palavras...perguntou se ele ia continuar negando o fato. Ele apenas abanou a cabeça em sinal negativo. Ela não gritou, não fez cena. Isso não era do seu feitio. Sempre preferiu a discrição em tudo na sua vida. Apenas suspirou e encerrou aquele momento avisando que depois eles iam conversar.
Entrou em seu carro, ainda dormente, e saiu dali. Em sua cabeça, giravam os pensamentos. Como uma coincidência assim acontece ? Porquê ela dirigiu-se exatamente àquele lugar, com tantas outras opções no caminho ? Intuição feminina ? Sexto sentido ? As mãos do destino guiando sua vida ? Difícil responder, difícil entender... 
Tinha consciência de que estava errando tanto quanto o marido. Seu espanto era muito mais pela forma como tudo aconteceu do que pela própria traição em si. Também sabia que tinha toda a vantagem do seu lado, pois no meio de toda essa confusão, só ele havia sido descoberto.
Mas os questionamentos não paravam de pipocar em sua mente : Tinha certeza de que tudo aquilo estava acontecendo para lhe mostrar algo maior, para lhe fazer entender que precisava mudar seus valores, seu comportamento,  pois o caminho que estava trilhando não era o correto.
Restava a ela ter a devida compreensão de tudo aquilo e tomar as
decisões que afetariam para sempre o curso da sua vida.
GEORGIA GALEGA
Enviado por GEORGIA GALEGA em 10/09/2010
Reeditado em 10/09/2010
Código do texto: T2489815
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