A TRISTEZA DO MATUTO
 
 
O café quentinho cheira no bule de coador de pano!
Sentado em tosco banco de madeira ele pensava...
Matuto como era, nada lhe fugia ao olhar!
O cheiro do mato molhado após a chuva da noite  era apreciado plenamente!
Cada detalhe daquela casinha simples, mas, singela estava gravado em sua mente!
Homem trabalhador construíra aquela choupana com as próprias mãos, colocando em tudo o amor que sentia por ela!
De nada se esquecera!
Desde o primeiro tijolo colocado, ao barro misturado; desde as paredes caiadas do mais puro branco!
Fizera-as com o pé direito alto para bem ventilar cada cômodo que eram seis ao todo!
As janelas de madeira se abriam de par em par, ofertando aos olhos a vista esplêndida da natureza tão  rica em detalhes que só um artista poderia descrever!
A cama esculpida por suas próprias mãos trazia desenhos de flores e pássaros e uma colcha de retalhos muito bem costurada por D. Maria, bordadeira da cidade, havia sido colocada delicadamente junto às almofadas coloridas!
Na cozinha, fizera um armário que serviria de despensa e jurara a si mesmo que nunca nenhum alimento faltaria para a sua amada!
As panelas muito bem ariadas, descansavam a espera de sua dona!
Ele era cuidadoso e tudo merecera sua atenção especial, pois, preparava com amor o ninho que receberia em breve a sua amada Joaquina!
Ela era moça prendada!
A sétima filha de Dona Margarida que tinha ao todo nove!
Moça bonita de pele alva e olhos tão azuis que mais se assemelhavam a duas pitadas do céu sobre a face!
Era de uma meiguice e timidez sem igual e fora muito difícil para ele conquistar-lhe o coração!
Ela sempre se escondia dele quando ia visitar seu pai, o “Seu Adamastor”, o seleiro mais famoso da região!
A custa de muito trabalho e persistência, “seu Adamastor” conseguira criar bem seus nove filhos e Joaquina agora se preparava para casar com ele!
Era homem simples, mas,  de princípios fortes e concretos e isto fizera com que ela se apaixonasse, pois sabia que, a seu lado, constituiria a tão sonhada família como a de seus pais!
“Seu Adamastor”, em nada economizara para o casamento.
Mandou matar dois porcos, uma vaca e as mulheres se reuniam todos os dias para preparar as guloseimas e doces da grande festa!
Dona Margarida confeccionara com capricho o vestido da noivinha e ele tinha um enorme laço de cetim que lhe cairia até os pés, ornado com pequenas flores nas pontas!
No véu, a guirlanda que o acompanhava, era toda de flores de laranjeira, pois  diziam dar sorte!
Todos se movimentavam alegremente para o tão sonhado dia, pois, Joaquina era moça querida por todos por ser a professorinha das crianças!
Com sua meiguice, conseguia ensinar com carinho as primeiras letras do alfabeto e isto a fazia mais que especial!
A carroça que levaria a noiva, fora cuidadosamente enfeitada e até a viseira do burro trazia enfeites coloridos!
Faltavam poucos dias para o consorte e, enquanto dava o último retoque na arrumação da casinha onde já se instalara  alguém o chama nervoso ao portão. 
Sem muito entender devido ao choro contínuo de Bastião, o capataz da fazenda de “Seu Adamastor”, que além de gago também era um pouco surdo, este lhe pedia com insistência que corresse até a casa de sua amada, pois, uma desgraça havia acontecido!
Imediatamente, toma das rédeas de seu cavalo e parte em disparada com o coração aos saltos!
Em lá chegando, o quadro que vislumbrou fez com que seu mundo ruísse!
Deitada por sobre a mesa da sala, estava o corpo inerte de sua amada!
Sentiu-se desfalecer devido à dor!
Todos sem exceção choravam copiosamente, pois não acreditavam que aquilo havia acontecido!
Sua amada Joaquina, ao procurar mais lenha para o fogão, fora picada por tão venenosa cobra, que nem tempo dera de chamar o médico com o soro salvador!
Morrera como um passarinho!
Sem muito entender nem acreditar, todos tristes e chorosos preparavam agora o cortejo fúnebre daquela que morrera virgem, pura,” quase santa” , justo às vésperas de seu casamento!
E todos da cidade acompanhavam em silêncio agora o féretro carregado pelo noivo matuto que vira sua vida ruir e perder a cor por ter que enterrar não só sua amada, mas, também seus sonhos!
ROSA SERENA
Enviado por ROSA SERENA em 08/09/2010
Código do texto: T2486176
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