NO TEMPO DA MARIA FUMAÇA

No tempo que o meio de transporte mais ágil e disponível era o trem de ferro, um executivo que se esnobava grandeza, se achando superior pelo cargo que ocupava, chegou a uma pequena cidade do interior onde teria que pernoitar. A cidade muito modesta não dispunha de uma rede hoteleira a altura do granfino. Ele rodou a cidade ponta a ponta em busca de acomodações, mas achou apenas uma vaga, Um aposento com dois leitos, um dos quais já ocupado por outro elemento a ele desconhecido. O proprietário explicou que teria que dividir o quarto com o moço, um preto muito legal conhecido e cliente de muitos anos, gente boa sem problemas. –Você disse um preto? – Sim um preto, mas um doce de pessoa a cor não importa-, o que importa é alma! –Vou procurar outro local não gosto de preto!

Revirou a cidade novamente não encontrando onde dormir voltou e sem opção teve que aceitar o leito. Afirmando embora eu deteste a cor negra, vou ter que aceitar dormir com a má companhia do preto. - Um amigo do preto ouvindo a conversa, revoltado tomou para si suas dores. Procurou pelo proprietário solicitando a ele trocarem de leito com o amigo naquela noite. O gerente achou estranho, mas aceitou sem maiores explicações, afinal sabia que a amizade entre eles estava acima de tudo.

Lá pela meia noite quando o homem estava em sono profundo o companheiro pintou a cara do nojento com uma tinta muito preta e de secagem rápida, dizendo ele lá seus botões-, ai maldito engula o veneno de sua alma-, seu preconceituoso de uma figa!

O viajante havia recomendado ao proprietário para acordá-lo pela manhã, não poderia em hipótese nenhuma perder o trem que partiria bem cedo.

Acontece que o mesmo, era portador de um distúrbio mental provocado por um aneurisma que o afetara em sua juventude, e com isso de vez em quando perdia a noção, chegando a esquecer até de si próprio, onde morava, e quem era. Às vezes se julgava como sendo outra pessoa.

De manhã quando acordou estava já em cima da hora, levantou apavorado quase sem tempo, correu para a estação ferroviária onde o trem já manobrava para partida. Entrando rapidinho no banheiro olhou no espelho tomou um grande susto-, puxa vida será castigo?! Saiu em disparada rumo à pensão. O bilheteiro com sua passagem na mão gritou por ele dizendo:- volte seu moço tu vais perder o trem! – O segure ai mais cinco minutos! Estou indo até a pensão chamaram o preto no meu lugar, eu estou lá bem dormindo-, quero desfazer o engano! Volto em dois minutos!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 07/09/2010
Reeditado em 08/09/2010
Código do texto: T2483081
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