PARTIDA COMPULSÓRIA

 

 

 

 

A estação está fria e úmida pela fina chuva de um dia inteiro. Subi naquele trem com os ossos enregelados. Indiferente ao tempo, o trem estacou. Subi feito zumbi. Olhos estranhos e mudos espionavam minha figura. Sutilmente deixaram escapar um fio da suspeita e a cada pouco um se levantava para acomodar-se mais distante. Era tanta dor contida que quando o trem parou naquele lugar despovoado sem nenhuma casa na estação senti como nunca, a sensação de leveza. Ninguém ousou prestar-me ajuda para descer o velho baú que encerrava todas as lembranças de minha vida.  Deixei-o ali à beira da linha e fui andando na direção em que a placa empoeirada sinalizava o que tanto temia: LEPROSÁRIO. Nenhum sorriso, nem aceno de despedida. Caminhei sem pensar no que havia deixado para trás, assim como quem só tem costas, pois a frente já havia deixado no trem...

 

 

 

 

Nota: Casos e causos extraídos de histórias verídicas.  Depoimentos no decorrer de uma vida profissional dedicada à Hanseníase.



 

 

 

 

heleida nobrega
Enviado por heleida nobrega em 05/09/2010
Reeditado em 05/09/2010
Código do texto: T2479593
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