CONTO DO VIGÁRIO - PARTE II
O que ninguém conta é que o tal padre cabeludão era bonitão. Com o passar do tempo, passou a chamar a atenção da mulherada de Laranjal - para a fúria dos namorados, maridos e afins.
As mulheres estavam simplesmente eufóricas com a presença do padre novato na cidade. Tanto é que nunca se viu tamanha romaria rumo à igreja. de uma hora para a outra, a ala feminina da cidade passou a frequentar as missas, confessar os pecados e pedir ao padre para que fosse às casas "dar a bênção do lar". Sempre à tarde, quando maridos estavam trabalhando e os filhos estavam na escola. E as mocinhas retiravam do roupeiro seus melhores modelitos e pintavam-se faceiras para ir à missa.
E elas não davam trégua. sentavam-se na primeira fileira da igreja e faziam caras e bocas enquanto um padre nervoso tentava se concentrar na missa que rezava. Lá pelas tantas, era a hora da hóstia sagrada. Enquanto formavam fila para recebê-la, misturavam-se junto às senhoras carolas as jovens afoitas e o padre, todo atrapalhado, repetia: "corpo de Cristo", "corpo de Cristo"... Até que uma escultural mulata veio tomar a hóstia e o pensamento foi mais rápido do que a repetição automática e ele solta um "Cristo, que corpo!"
Não durou muito na cidade. Resolveu ir embora. Mas antes, achou que devia uma satisfação aos fiéis. Em uma pequena nota do jornal local, decidiu publicar um breve desabafo: "Estou indo embora. Padre também é homem. Impossível resistir a tanto assédio".
E foi-se embora em seu gol bolinha rebaixado com rodas de liga leve. Mas levando na carona a estonteante mulata - ex-esposa do Seu Venceslau, dono da fruteira da cidade.