TEORIA DO PESCADOR

Era uma bela tarde de verão, estavam reunidos a sobre de uma frondosa arvore na modesta praça os moradores mais ilustres do lugarejo a jogar conversa fora e dentre eles não podia faltar figura carismática do seu Bépe , um velho italiano já aposentado mas que gostava de matar seu tempo na beira do rio. Homem muito conhecido e vivia a contar seus causos de pescaria na vendinha do povoado, ponto de encontro detodos. Quando ele se fazia presente a prosa corria solta e descontraída, eram gargalhadas daqui, sorrisos dali e o peixe maior, como de costume, sempre que fisgado, após um esforço danado do velho pescador, acabava escapando do anzol e a dificuldade agora era o braço não suficientemente grande para mostrar o tamanho do erado.

Foi numa dessas tardes quando a prosa se tornava até realidade ante a veemência do narrador, chegou sorrateiramente o conhecido Mundinho, um preguiçoso de mão cheia, homem que não tinha intimidade nenhuma com o serviço e se não fosse a mãe para sustentá-lo com certeza morreria de fome pois não atinava com serviço nenhum, passava as tardes embrenhados nos brejos da região pescando uns míseros lambaris que vendia para tira-gosto na vendinha, o que lhes rendia alguns vinténs, o suficiente para manutenção de sua traia de pesca e do único vicio que tinha, o fumo.

Como era de seu feitio, sorrateiramente ele aproximou da roda de conversa e ficou assuntando os loroteiros, um deles notando a curiosidade de Mundinho, sugeriu ao italiano que o convidasse para a pesca, com certeza o peixe não escarparia. Brincadeiras a parte, o velho italiano olhou para o caboclinho que estava atento a conversa e como homem popular que era, o convite foi feito para a pescaria do final de semana em seu rancho.

O pobre rapaz ficou lisonjeado com o convite, encheu-se de orgulho, afinal de contas o convite revitalizou a sua imagem tão desprezada por todo o povoado, olhou para o tempo, matutou, matutou e na duvida ainda perguntou:

______ Finar de semana?

O pescador confirmou e o caboclinho mais que depressa justificou:

______ Humm! Num dá.

Um dos presentes tomou a frente do anfitrião e num ar de zombaria perguntou ao caboclinho

______ No final de semana não dá porque? Vai me dizer que tem trabalho!

A resposta veio como automaticamente e sem meias palavras:

______ Num é isso não seu Bépe, é que finar de semana na bera do rio só dá vagabundo.

Sem argumentos contra tal observação, nada mais restou ao bando senão caírem na gargalhada com a resposta.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 26/08/2010
Código do texto: T2461696
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