Vidas por um fio.

Andréa sempre foi de família humilde, quase não frequentou escola e tinha que ajudar na renda familiar para poderem sobreviver. Aos dezesseis anos, engravidou de um homem de trinta e cinco anos, que após descobrir a gravidez a abandonou sem pensar duas vezes. Sua família quando soube não fez diferente. Discutirão com a menina apresentando todas dificuldades vividas por todos naquele lar, criticaram o homem que a abandonou e lhe disseram que não ajudariam a criar a criança que estava por vir. Andréa saiu de casa aos três meses de gestação e sem ter pra onde ir se entregou a prostituição. Mesmo gravida, conseguia algum dinheiro e assim veio ao mundo Aloísio, seu primeiro e único filho. Apesar de todas dificuldades a garota que se fez mulher pelas circunstancias da vida tratava de seu filho como se este fosse um príncipe e todas as pessoas da casa de prostituição onde ela morava tratavam o garoto com o mesmo afeto. Aloísio, era um garoto reservado, quieto, um ótimo aluno na escola e como sua mãe nunca lhe escondeu a verdade, amava-a com todo seu sentimento mais puro. Saber que a mãe passou por tantas dificuldades para tê-lo e criá-lo com tanto amor fazia com que seu sentimento de gratidão fosse de um tamanho sem igual. Um ano antes de completar a maioridade civil, Aloísio ao retornar da escola se deparou com a cena que mudaria sua vida para sempre. Estava chegando em casa e lá do portão ouviu sua mãe em prantos e uma gritaria total. Naquele começo de noite, a boate recebeu um cliente nunca esperado. O homem cujo tanto mal causou a sua mãe apareceu naquele estabelecimento por acaso e Andréa ao vê-lo se desesperou. Atirou-se pra cima do homem aos prantos com uma fúria incontrolável. Clientes da casa, suas amigas, todos foram surpreendidos e não sabiam ao certo o que estava acontecendo e antes que alguém fizesse alguma coisa o homem ao tentar se defender segurou-a nos ombros arremessando-a ao solo com muita brutalidade e ela caiu e ficou ali imóvel quando debaixo de seus cabelos começou aparecer uma poça de sangue. Aloísio nesta altura estava parado na porta de entrada do local com a mochila da escola caída ao seu lado chorando e paralisado ao mesmo tempo. O grito que saiu de sua boca foi ensurdecedor, muito mais assustador que a cena ali presenciada por todos. O menino dócil e gentil deu lugar para um momento de total perda de sentidos. Saiu correndo em direção do bar da casa noturna, se apossou de uma faca de cozinha de preparar porções de carne, foi pra cima daquele homem que agredira sua mãezinha e o esfaqueou cinquenta e três vezes no peito, gritando, cego naquele momento, sem sentimento algum, sem razão, um momento entre o certo e o errado aonde não existia diferença entre as duas opções. As pessoas disseram que o menino só parou de esfaquear o homem quando caiu desmaiado. Aloísio descobriu que aquele homem era seu pai alguns dias depois quando recebeu a visita de sua avó na FEBEM, onde permaneceu por um ano. Alguns operadores do Direito ao ficarem sabendo do fato, cuidaram do caso do garoto, mas quando saiu já tinha se formado na pior das escolas, e todo amor que um dia existiu agora tinha desaparecido. Aloísio não procurou por nenhum familiar ou conhecido. A quem diga que se tornou bandido, mas também a quem diga que se tornou diretor de um orfanato.

Em sua cama na detenção foi encontrado um pedaço de papel, uma carta dizendo assim:

“_ Querido Deus, diga para minha mãezinha que ninguém foi nem será tão importante em minha vida como ela foi, explique para ela tudo que aconteceu mas, não diga que matei aquele homem, pois posso afirmar que aquele não era eu, me mande um pouco de Luz pra eu tentar ver cores mais uma vez e se tiver tempo, cuide dessa ferida que trago no peito pois agora estou sozinho com uma dor que é de dar medo.”