Eu vou onde o povo está!

Isso aqui sempre foi um lugar perigoso, barra pesada, lugar de pessoas ignorantes, brutas, verdadeiros animais.

Dizem que aí pelas matas há uns riozinhos limpos, umas cascatinhas ruidosas, onde se deixam presentes para Iemanjá. Dizem que ela gosta de lá.

Mas aqui, no desmatado, há muitos barracos de palafita, é favela na baixada e esgotos sujos, com umas passagens estreitas de tábuas de obra. Você passa e a tábua verga toda. Cair nessas valas é a pior coisa que existe. Você fica todo emporcalhado das mais horríveis porcarias. Iemanjá não pode gostar dessas águas podres. É por isso que ela não vem cá. Você é que tem que ir lá onde ela gosta.

Outro dia esteve aqui o seu Pascoal, vereador pedindo votos. Meteu o pé na tábua e ela se espatifou. Seu Pascoal caiu com a bunda gorda no fundo da vala. Acabou com o terno de linho noventa.

O seu cabo eleitoral havia alertado: “Não vá seu Pascoal, que é muito peso”. Mas ele entusiasmado foi. “Eu vou onde o povo está”.

E foi mesmo. Meteu as fuças no meio da merda. Exatamente onde o povo está.