Reminiscências 19
Festa em São Bernardo
Festa é tudo de bom não é gente? A criançada que o diga.. e os adultos também.
De minha parte posso afirmar que participei de muitas quando criança, e muitas delas em São Bernardo.
São Bernardo é um bairro distante do município de Delfim Moreira, que tem como padroeiro São José, uma coisa que nem meu tio George que nasceu lá soube me explicar, mas vamos ao fato.
Ali se encontravam a maioria de nossos parentes e amigos, uma vez que meus pais nasceram e foram criados lá. Meu pai na Fazenda Divisa e minha mãe num local denominado Lima.
Estas festas eram ocasiões ideais para se reencontrar, trabalhar, matar saudades, beber, comer e porque não, até “falar bem” da vida alheia.
Pois bem, todo ano no mês de março era, e ainda é realizada a festa em São Bernardo, que durava dias.
As cerimônias (missas, terços e ações de caridade) eram realizadas como rezava os costumes, mas isso é lá com os adultos, o que quero registrar aqui é a comemoração sob o prisma de uma criança.
Que fartura! Tinha leitoas e frangos assados, pão com lingüiça e outras carnes, cartuchos com doces (meu sonho de consumo), bolos, pipocas, refrigerantes e tantas outras coisas mais que já nem me recordo.
Lembro-me de que em uma dessas festas, meus avós maternos, Sebastiana e João Nunes, foram incumbidos de assar os frangos e leitoas e fazer os doces que enchiam os famosos cartuchos, que seriam leiloados na festa.
Reuniu-se a família toda e olha que não era pequena: Meus avós, Tios, minha mãe e suas irmãs Nelsa, Jovenita, Noêmia, Guiomar, Nazaré e Lucinda.
Como eu era o companheiro de caminhadas e visitas de minha mãe, desta feita não foi diferente. Portanto crianças ali eram poucas, e eu era uma delas.
Ao lado da casa de meus avós havia um enorme forno de barro, onde eram preparados os assados. Na despensa (compartimento da casa onde se guardam os mantimentos) ficavam os enormes tabuleiros com uma variedade de doces, biscoitos e bolos de fazer qualquer criança perder a razão.
Este local era visitado as escondidas por nós, tendo que pular uma enorme janela. Esta parte nem que eu quisesse esquecer eu não conseguiria...
Aquelas noites eram curtas para tanto trabalho, chegada e saída de parentes e vizinhos, falatório e muita diversão.
Naturalmente, que pra nós pequenos elas terminavam mais cedo, sempre com um copo de café com leite quente e um enorme pedaço de bolo feito na hora. Mas resistíamos bravamente até sermos completamente vencidos pelo sono.
Após um merecido descanso de manhã, estávamos prontinhos para a festa que começava a tarde que se estendia até altas horas.
Havia barracas no largo gramado da paróquia, que vendiam de quase tudo: sanduíches dos mais variados, doces de todos os tipos, frutas, refrigerantes, bolos, balas e tudo mais. Ficávamos maravilhados!
A ordem era andar sempre acompanhado de um adulto, mas hora ou outra escapávamos a essas regras.
Nossos recursos financeiros eram limitados (ganhávamos alguns trocados por pequenas tarefas realizadas e por bom comportamento) por isso cada centavinho era muito valorizado.
Contávamos ainda encontrar alguns tios ou padrinhos (estes valiam a pena) que sempre nos presenteava com alguma guloseima.
Ficávamos empanturrados, principalmente quando se ganhava um cartucho com doces, como já disse meu maior sonho de consumo e acho que da maioria das crianças daquela época.
Bem, é uma pena, mas a gente cresce, as festas perdem a inocência, entes queridos se vão, novos valores e costumes aparecem, mas daquilo que foi bom sempre ficará algo que jamais nos roubarão.
O registro na memória daqueles dias de alegria e inocência é meu maior triunfo.
Quantas crianças nos dias atuais podem desfrutar de momentos assim, sem que haja preocupação dos pais, quanto à violência, uso de drogas e outros abusos agravados pela modernidade? Penso que são poucos.