VIZINHO MAL AGRADECIDO
Certa vez apareceu na região um peão de boiadeiro, comprou uma pequena propriedade e se instalou com a esposa e dois filhos, o mais velho já o ajudava na lida do gado, o mais novo ainda não servia para esta tarefa, ficava em casa com a mãe. Era um caboclo meio xucro porem se dava bem com vizinhança toda e o que mais lhes dava orgulho e ostentava para todos era um anel de ouro maciço que dizia ter ganhado em um rodeio ainda no tempo de sua juventude, alias foi esta vida de peão de rodeio que lhe situou na vida.
Certo dia uma de suas vaquinhas, caiu doente e o homem, muito zelosos com sua criação, procura o medico veterinário na cidade que receita um remédio para ser ministrado por via oral. De posse do medicamento, o homem volta para casa e tenta de todos os meios, enfiar o remédio goela abaixo da vaquinha e numa destas tentativas o animal acabou engolindo medicamento e também o seu anel de ouro maciço, isso o deixou nervoso. Vigiou o pobre animal por uma semana, deixando preso no piquete e toda vez que evacuava, lá ia o homem revirar as fezes do animal a procura do tesouro, mas nada da vaca descomer o seu anel. Vai daí que um vizinho de propriedade, um caipira muito curioso, vendo o peão desolado beirando a divisa, aproxima-se e numa conversa com o bisbilhoteiro o peão acaba relatando o ocorrido e de pronto ouviu o seguinte Conselho:
______ É Vaca de valor?
______Não.
Respondeu peão.
______ Puis intão mata ela ué!
Embora triste com a situação, o peão acha o conselho do vizinho oportuno, pois não vê outra saída senão matar a pobrezinha para recuperar o seu anel. Vaca morta, e lá está o homem revirar as entranhas do animal a procura do dito cujo anel. Os urubus sentido cheiro de comida farta logo rodeiam o local aos bandos e o homem entretido no serviço nem percebe a aproximação das aves famintas e quando sente o anel num pedaço do folhoso, levanta a peça para céu num sinal de agradecimento a Deus, momento em que uma dessas aves, num vôo rasante, rapina a peça de sua mão e some no meio das demais. E agora, o que fazer. O Vizinho matuto o aconselha novamente:
_______ Agora, só matano o corvo!
_______ Ééé! Agora só matando o danado!
Exclama o homem decepcionado. Na verdade existiam pra mais de cinqüenta aves no bando, aparentemente todas iguaiszinhas, mas o homem acata a idéia, imediatamente pede para filho mais velho ir buscar a cartucheira que estava guardada em casa. O Vizinho depois de sugerir, fica imaginando a cena e exclama para si mesmo
______ Meus Deus do Céu, o homem indoidô de veis, vai sê uma mortandadi danada!
Minutos depois chega o garoto com a espingarda e munição, o peão, de posse da arma engatilhada, fica observando as aves que estão num vai e vem, ora nas arvores aos redor, ora na carcaça da pobre vaquinha, eis que derrepente o peão decidi, mira numa ave, bate o dedo no gatilho e zás o urubu pro chão. Corre, pega o caça, e com a faca em punho, estraçalha a ave e lá esta o anel valioso.
O Vizinho fica perplexo com a sorte do homem e interroga :
________ Que sorte sô! Acertá logo de primera!
Orgulhosos de ter recuperado o seu tesouro, o homem olha e no trejeito de peão responde
_______ Que sorte que nada, então o vizinho não viu?
_______ Mar pergunte, Viu o que?
_______ Como este corvo se separou do bando.
_____ É..., Num reparei, mais quequeisso tem a vê co’a sua sorte ué?
_____ Vizinho. _____ Explica o peão _____ Pobre é tudo igual, não pode ter um pedacinho de ouro que já se sente o dono do mundo.
E o peão deixou o vizinho curioso sozinho e foi feliz da vida para casa com o anel de ouro maciço no dedo, enquanto os urubus davam conta da vaquinha doente.