O dia que beija-flor mudou de nome.
O dia que beija-flor mudou de nome.
Causo de Minhas Minas tão Gerais.
No país do desprezo pela educação, nos deparamos com diálogos, que nos causam humor, quando na verdade deveria ser horror. Coisa do famoso jargão: seria cômico se não fosse trágico. São fatos assim que no remetem a uma reflexão do ensino e do desleixo pelas autoridades da educação.
O dialogo aconteceu na década de 40, mas permaneceu intacto na mente de JR, que nascera e vivera num cantinho de roça nos anos 20. Contava que vira seu pai se embrenhar na mata com medo de ser convocado para a Grande Guerra, e que só retornou muito tempo depois, não se sabendo como sobreviveu naquelas matas virgens. Junto com ele outros tantos companheiros de trabalho duro nas lavouras, tendo como companheira a enxada, foice e facão.
Diante aquela vida dura finalizada com casamentos precoces com muitos filhos, sem opções de lazer além da pesca e raros bailes animados por sanfonas e violas. Homens a que cedo conheciam o gosto pela pinga, a cachaça de alambique, da própria cana cortada, decepada dias e mais dias antes do Sol e espera da Lua. Cedo já convivia o gosto ígneo da cana fermentada nos alambiques. Sempre usando pequenas cabacinhas divididas longitudinalmente ao meio, pois assim se acreditava que nestas cabacinhas a cachaça mantinha o sabor original.
Estes duros trabalhadores carregavam a esperança de um dia partirem para a cidade e conseguirem trabalho na empresa de mineração, que sabiam pagavam bons salários e que podiam até ganhar casas. E viveu assim paciente assim o JR, até o pós guerra de 45, quando o Brasil viveu seu primeiro processo de evolução industrial. Foi neste período que aquele homem da enxada, chegou para a cidade, movido pela certeza de que havia chegado a hora. E chegou mesmo, logo soube que precisavam de homens fortes para o processo de carregamento dos carros, que transportavam minério de ferro do alto daquele famoso Pico do Cauê ainda virgem, isento da fúria humana.
Contava JR que um dia nesta cidade grande, passando por um boteco viu uma cachaça com lindo rotulo de um pássaro, e que o vendedor afirmara ser uma boa pinga, produzida na cidade de Salinas lá longe no nordeste de Minas Gerais. Conta que chegou a casa e a colocou na cozinha em cima de armário. Sua esposa não estava em casa, pois tinha ido à casa de sua comadre e cunhada Conceição. Nos afazeres do quintal, ele se deixou levar ali até quando chegou a esposa e a Conceição. As duas chegando à cozinha ficaram maravilhadas com a beleza do rotulo da cachaça, com aquela bela figura.
A esposa de JR falou:
- Olha comadre que garrafa bonita com uma beijatitô vuano, pena que seja pinga comadre. A Conceição olhou bem a figura e retrucou:
- Não comadre, não é uma beijatitô, é uma bejatiô vuano, e assim as duas ficaram na polemica, quando o JR chega à cozinha e encontra o dialogo e morrendo de rir, ele argumenta, que não é nem uma nem outra, e que elas estavam mudando o nome do beija-flor, no que elas caíram na gargalhada. Quando elas falaram corretamente, olha JR nós sabemos que é um beija-flor, que era o nome da cachaça, famosa cachaça de Minas Gerais que leva selo de qualidade até os dias atuais.
Ai JR entendeu que elas sabiam o nome do pássaro, mas que pronunciavam errado com os vícios daquela comunidade lá da roça e ele não se conteve na risada. Elas sempre que aparecia um parente contava este dialogo achando a maior graça e assim ele chega até vocês.
Sentado num banquinho ou mesmo na beiras de um fogão a lenha, sempre por perto de um dos velhos do meu tempo, menino ouvia causos e estórias de lobisomem e de tantas assombrações, aprendia as charadas da época e as piadas, gravava tudo, temia tudo e ria muito. Era feliz.
Seria muito bom voltar ao tempo dos banquinhos nas portas das casas, menos televisão, vídeo games, mais conversas principalmente com os velhos a contar suas fartas historias de aventuras, suas façanhas, seja lá em qualquer tempo, ou geração.
Coisas de nossa gente, coisas de nossa historia, que devemos buscar eternizar e assim reestudar os costumes e tradições dos povos, penso que assim deve ser a Historia, não é mesmo?
Toninhobira
10/08/2010