O corajoso
( _ )
° °
Tonhão era homem trabalhador, bom de prosa, mas pouco entendia da vida dura dos pioneiros e desbravadores das densas matas do norte do Paraná.
Viera de onde nunca se tinha visto ou falado de onças, javalis e cobras grandes e por isso, as conversas da vizinhança aguçava sua curiosidade.
Numa dessas conversas, acabou sendo convidado a participar da caçada a uma onça que a noite vinha atacando os animais domésticos.
Tonhão não se fez de rogado e querendo impressionar os novos amigos e vizinhos foi logo avisando:
- Vocês sobem o morro com os cachorros e provocam o bicho, eu fico aqui esperando a onça. Quando ela aparecer, deixem comigo!
Dia e hora marcados, noite em prumo, lá se foram os companheiros morro acima atrás da onça. Tonhão, sozinho no pé do morro esperava.
Sem fazer nenhuma idéia de como seria o tal bicho e o que faria qdo o visse, andava de um lado pro outro numa angústia que já não conseguia conter.
Não demorou muito mais e já se ouvia o ladrar dos cães e os gritos do companheiros. Mil pensamentos atravessaram o cérebro de Tonhão, acelerando seu coração...
- Se a onça for muito grande...?
- Se não conseguir acertá-la na primeira...?
- Se.... se... ? ? ?
Sentindo que o bicho se aproximava, Tonhão, tomado de pavor, juntou todas as suas forças e pôs-se a correr, mas quanto mais corria, mais sentia o bicho roçar-lhe o traseiro, quase a pegá-lo.
Pega daqui, pega dali, de tanto correr Tonhão chegou finalmente a cerca de arame farpado de seu sítio. Sem muito pensar, atirou-se por debaixo da cerca.
Mas para seu azar, sua calça enroscou-se. Batido pelo cansaço e no auge do medo e da morte eminente, bradou:
-COME ONÇA! COME QUE OCÊ TÁ COMENDO É UM HOME!
Silêncio total e como nada acontecia, Tonhão passou a mão no traseiro e só então percebeu que atrás de si não tinha onça nenhuma!
Eram as palhas milho, de fazer seus cigarros, que lhe roçavam o traseiro!