POR CAUSA DE UM CAUSO
Conta-se que um caboclinho muito levado, morador de um povoado perdido neste mundão de meu Deus, levava uma vida desregrada, gostava da malvada cachaça e com o umbigo encostado no balcão passava o dia, sempre alegre contando anedotas e fazendo graça, era um pinguço de mão cheia, quer sendo pura o caipirinha, de qualquer jeito ele bebia e apesar de ser um rapaz novo, moço esbelto, forte e sadio, o danado do trabalho não fazia o seu feitio, assim levava à vida naquela vadiagem, pros fregueses do boteco, sempre contando vantagem, e como todo bebum que se preze, a família vivia na maior pobreza, mergulhada em sofrimento, a despensa dava ate tristeza de ver, não tinha sequer um alimento, mas mantendo as aparências, não dava o braço a torcer, lá em casa dizia nada faltar, tinha do bom e do melhor e continuava a gazofiar, numa bebedeira de fazer dó, bebendo a dele, a do amigo, e se dessem moleza, até a do santo o danado entornava com certeza, fosse qual fosse a marca, não importava a origem ele mandava pro gogó, assim ia levando a vida cada dia de mal a pior.
Certa vez numa conversa de quem não tem o que fazer, a aparência da danada morte, puseram se a descrever. Foi quando Nho Tonico, a quem tinham muito respeito, pois corria a solta o boato de que até um maldito trato, com o capeta o homem já havia feito, era um rico fazendeiros morador daquelas bandas, pela idade todo capenga, que entrando no boteco e vendo aquela lenga-lenga, apossou da situação, dando uma de sabichão, afirmando de ante mão, que a morte aqui no sertão é tal qual um frango preto, altivo e de pescoço pelado, que entra em casa derrepente, quando alguém fica doente, pra levar alma da gente, deste pra outro mundo, sem dó nem compaixão, afirmou o fazendeiro todo cheio de razão.alegando que ele porem não tinha essa preocupação, pois no trato que celebrou, o diabo lhe adiantou, que da morte o livrou, e o deixaria no mundo pra semente.
Mas que morte, mas que nada, retrucou o bebum irreverente, de quem, pra dizer a verdade nem ficava doente, e por cima ainda se gabava da saúde de ferro que tinha, dizendo que essas frescurites espantavam tudo com caipirinha, O tempo passou verdade é que as palavras do fazendeiro descrente, encalacraram em sua mente e quando o assunto era morte o rapaz dava um jeitinho, desviando de fininho, a conversa pra outro lado, pois embora roncasse tamanha valentia, a morte era o que mais temia, não gostava destes papos, maltratado pela bebida de homem já era um fiapo, dia a dia a minguar mas assim mesmo achava injusta morte, como quem se num gesto de sorte, pudesse dela se livrar, dizia num desespero danado,se a morte for descanso, prefiro viver cansado
Mas cansado do que? Ninguém por ali sabia explicar, pois de trabalho não gostava nem de ouvir falar, assim o tempo foi passando, a idade chegando e o homem naquela vida, se entregando dia a dia a bebida. Mas vejam que triste destino, que situação ficou o pobre caboclo: barrigudo, franzino, perdeu toda a rompança, do álcool ganhou uma pança, a cirrose lhe veio por herança, e a morte certa em tais circunstâncias, com certeza já rondava as vizinhança, mas ele continuava firme no seu ditado: “Se a morrer for descanso, prefiro viver cansado”.
Certo dia estando em casa só, sem animo pra vida, triste sina sofrida, de quem entrega ao vicio da bebida, eis que um carancho passou, sobrevoando o terreiro, a galinhada fugiram apavoradas procurando abrigo em qualquer lugar. Derrepente o homem na casa apronta um tremendo berreiro, Chamando pela mulher e pelos filhos, pela terra e o céu inteiro, ao ouvir tamanho alarido, aqueles gritos doloridos, todos correram para acudir, ver o que havia sucedido, encontraram o homem na cama todo borrado, de medo o homem tremia, clamando a todos os santos e a Virgem Maria achando ter chegado o famigerado dia, pois da cama onde estava deitado ele viu o excomungado, um dito cujo, preto, altivo e de pescoço pelado, mas não sabia o pobre coitado, que era só um frango ressabiado, que fugindo do gavião, pela porta do quarto havia entrado.