O SEGREDO DA TIA ERNESTINA = EC
Quando Tia Ernestina partiu, os sobrinhos herdeiros resolveram vender a velha mansão onde ela nascera e vivera toda a sua vida.
Coube a Sofia a tarefa de desocupá-la, depois que foram retirados todos os pertences que poderiam ser vendidos ou doados.
Coisas sem importância que ela guardara a vida toda, sabe-se lá por que, foram amontoadas e queimadas no quintal, com uma certa tristeza.
Coitada da Tia Ernestina! Tivera uma vida tão solitária, só voltada para as práticas religiosas e os cuidados com os irmãos e sobrinhos. Não tinha amigas, nunca fizera uma viagem, nunca tivera um namorado.
Assim pensava Sofia quando encontrou em um bauzinho de vime um pacote de cartas desbotadas pelo tempo, guardadas que tinham sido por décadas e décadas.
Curiosa, tomou na mão o envelope subscrito com o nome da tia, selado com uma estampilha estrangeira, abriu e viu que se tratava de uma carta de amor, ou melhor, dizendo um poema de amor bem no estilo dos apaixonados do século passado.
Sentiu-se um tanto indiscreta. Se a tia nunca falara nada sobre ele é porque não queria que soubessem de sua existência. O certo seria queimar sem ler, com o baú e tudo, mas, quem resistiria à curiosidade em nome do respeito aos pudores da tia morta?
Interrompendo seu trabalho, desatou a fita e espalhou sobre a mesa os desbotados envelopes com as cartas secretas da titia.
Admirada viu que elas tinham sido escritas no decorrer de mais de dez anos, e pelo teor das mesmas, que ela respondia e acreditava que um dia ele voltaria para se casarem.
Bem no fundo estava uma carta dela para ele, devolvida com a anotação: “destinatário falecido”
Esta estava lacrada e Sofia não teve coragem de abrir. Respeitou o segredo da tia, afinal, ela tinha direito a sua privacidade.
E de mais a mais, abrir cartas alheias é crime!
Juntou tudo de novo no baú, levou-o ao quintal e atirou-o na fogueira onde ardiam as últimas lembranças da passagem da tia Ernestina por este mundo.