A MALANDRAGEM DO CABOCLO

O boteco do seu Maneco, um português muito rabugento, era o ponto de encontro dos desocupados do lugarejo. Lá se reuniam para jogar conversa fora e, principalmente os dia chuvosos ou frios era certeza que naquele antro se encontrava os desocupados da vida, alguns jogando bilhar, outros na jogatina de carta, bêbados se esfacelando no balcão a procura de algum vintém para tomar cachaça ou filar uma dose de algum freguês endinheirado que ali adentrasse.

Foi num dia deste que Chico Bicudo, famosos por suas traquinagens apareceu no estabelecimento, muito tagarela como sempre, ficou por ali, ora troca algumas prosas com um, ora conversa com outro, como quem quer alguma coisa e enfim cria coragem, chega até o comerciante que, como bom conhecedor de sua clientela, já havia percebido que havia algo de estranho com o freguês que, encostando sorrateiramente no balcão, quando todos estavam entretidos, pede baixinho ao vendeiro:

______ Me vende um maço de cigarro fiado, fim da semana vou receber uma empreitado e acerto.

O Vendeiro muito astuto, retrucou baixinho para não ferir os melindres do freguês:

______ Não posso, ora pois, se me vêem vendendo cigarro fiado, todos querem comprar cigarro fiado e não posso abrir exceção pra ninguém.

O Freguês não insiste, fica por ali até que serra um cigarro de um velho amigo que acaba de adentrar na venda depois, vai até a porta , observa o tempo, volta sorrateiramente ao balcão e pede ao vendeiro

______ Então me vende uma dose de cachaça, final da semana pago.

O vendeiro mais uma vez, com todo cuidado, nega o pedido dizendo:

______ Ora pois seu Chico Bicudo, duas coisas prometi pra mim mesmo nunca vender fiado, são a cachaça e o cigarro, o amigo me perdoe, isto não é desconfiança.

O freguês não se opõe e nem questiona o comerciante que deveria ter lá suas razões e pelo jeito hoje, nem cigarro e nem cachaça, pois estava mais liso do que pau de sebo, nem um vintém furado no bolso, mas permaneceu por ali inquieto vagando de um lado para o outro, ia até a porta de venda, observava o tempo chuvoso, na rua alguns poucos transeuntes, do sitio quase ninguém veio pra cidade por causa da chuva. Derrepente retorna ao balcão onde o vendeiro cochilava e pede:

_______ Seu Maneco, me empreste dez contos, final de semana te pago.

O vendeiro num instinto e quase num monologo pergunta:

_______ Por que tu queres dez contos de réis ohh ralhos

_______ Ora, porque estou precisando, pode me emprestar, o senhor sabe que eu pago no final da semana.

_____ Esta bem, mas veja lá, até o final da semana!

Esta era uma qualidade do lenhador, podia até demorar, na maioria das vezes não cumpria com o prazo estabelecido e o final de semana poderia demorar meses mas nunca deixava de pagar suas dividas. O comerciante vai até o caixa, pega uma nota de dez contos, anota qualquer coisa numa caderneta e confiando na palavra do freguês, entrega-lhes cédula. O rapaz agradece, vai até a porta, observa o tempo chuvoso, ligeiramente retorna ao balcão e pede agora com o dinheiro na mão:

______ Me dê uma maço de “Mistura Fina” e uma caixa de fósforo.

Sem saída o comerciante desenxabido pois percebeu que acabara de ser ludibriado pelo astuto freguês traz o maço de cigarro e o fosforo pedido e para completar a cena o freguês entrega ao vendedor a cédula de dez contos e ainda diz

_______ Aproveita e me vê também um mata bicho pra boca de pito, por favor.

Recebe o troco, toma a dose de cachaça num só gole, faz uma careta, acende um cigarro e após dar uma longa tragada, como se estivesse chupando um delicioso favo de mel, olha para o tempo e aproveitando que a chuva dera uma trégua, agradece ao comerciante lembrando que no final de semana pagaria o empréstimo e vai embora, feliz da vida.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 03/08/2010
Código do texto: T2417021
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