Vuvuzelas, Jabulani e o polvo
Toniquinho Potoca era daqueles que conversavam pelos cotovelos, impondo as suas opiniões sem direito a resposta. Não acreditava, por exemplo, que o homem um dia fincou o pé na lua e pronto. Esta era a verdade dele e ninguém se atrevia dizer o contrário, a não ser aqueles que não conheciam de perto o Toniquinho Potoca.
Era de inventar moda e metido a saber de tudo. Futebol então, nem se fala. Era com ele mesmo. Dizia que foi craque de bola, pontinha esperto, cheio de velocidade e difícil de ser marcado, seja lá por quem fosse. Furava qualquer bloqueio e se afirmava contra todos os esquemas. Era danado o homem. Contava que havia recebido um convite prá jogar no Atlético. Só faltava dizer que cobrava escanteio e ia prá área para fazer, de cabeça, um gol.
Era ele que estava agora na Feirinha do Zé das Couves contando potoca, daí o seu apelido, em meio a tomates, batatinhas, cebolas, pepinos, alfaces, melancias e outros artigos de feira, sem contar a couve, do “seu” Zé, é claro, este vegetal muito rico em cálcio, fósforo e ferro.
Toniquinho, que não desligava o microfone, estava ali apregoando a sua tese de complô na Copa do Mundo da África do Sul, assunto que chateava a dona Creuza, esposa e única empregada naquele estabelecimento comercial, que não entendia nada de futebol e só se interessava pelas suas novelas.
- “Foi tudo uma armação!”
Dizia o nosso comentarista, argumentando que tudo fora feito para mudar resultados através de tramóias muito bem preparadas, justamente para avacalhar com as chamadas seleções de mais poder técnico. Neste momento reparei no “Seu” Zé das Couves um ar de reprovação, enquanto a dona Creuza, que não estava nem aí prá aquele assunto, se dirigia para o lado de fora da feirinha para descascar uma mandioca para o Dr. Gilson, que se mostrava bastante apressado.
Sem que ninguém ousasse a fazer a indagação que fosse, Potoca começou a defender o seu ponto de vista:
- “Isto é coisa das vuvuzelas, da Jabulani e do tal de Polvo”.
Estas palavrinhas ecoaram e tomaram conta daquele ambiente, deixando em segundo plano o vozeirão do Dr. Gilson a indagar o quanto teria que pagar pela mandioca. O que todos queriam mesmo saber era este papo furado ou não do nosso proseador.
Na cabeça do Toniquinho, as vuvuzelas barulhentas, sopradas a plenos pulmões funcionavam apenas para impedir que as instruções do treinador, no banco de reservas, fossem ouvidas pelos jogadores em campo.
Quanto à Jabulani, bola traiçoeira que resolvia mudar a sua trajetória no meio do caminho, era o indicativo claro, segundo Potoca, para deixar todos os jogadores com o mesmo nível de dificuldade no seu domínio e, consequentemente, um nivelamento por baixo entre eles.
Só faltava falar do vidente polvo Paul, morador do aquário alemão, que previa todos os resultados, até quem levaria o caneco. Potoca foi enfático:
- “Aí... foi o lado PISCOLÓGICO...”
Disse com quase todas as letras, mas certo de estar coberto de razão, no emprego da palavra e no seu significado, o nosso estimado sabichão.
Nisto, a Dona Creuza, que não estava nem aí para o assunto, resmungou:
- “Isso parece coisa do demônio!...”
Já o “seu” Zé das Couves, aferia o peso das frutas e verduras que eu havia selecionado e se preparava para a parte mais importante para ele, botar a mão no dinheirinho sagrado. Neste cenário toca o celular...
Era a patroa pedindo mais uma lata de palpito para a salada do almoço.