OS CAIPIRAS PREGUIÇOSOS E O LOBO MORTO

Quando criança eu adorava ouvir as estórias contadas pelos idosos. Fui um privilegiado com esta tão encantadora forma de entretenimento às crianças de minha época. Sendo eu filho de um casal que tinha os corações mais generosos que já conheci em todos os tempos. A exemplo de tantas outras famílias que acolhiam os idosos em suas casas. Nossa casa vivia cheia deles. Pessoas desafortunadas que pouco ou quase nada rendiam no trabalho, e que sem motivação nenhuma passava dias e semanas sendo hospedadas nas casas de amigos.

Dentre elas o Zé Antério um idoso meio retardo que sonhava com o casamento, vivendo a espera de sua musa, que segundo seu vidente “João Timbó”, se chamava Chica da Formiga, e chegaria trazendo uma vultosa cifra em dinheiro.

Zé Antério passava semanas pernoitando em nossa casa. Apesar de um q.i. Pouco evoluído era bom tacheiro fabricava excelentes rapaduras. Todas as tardes após a sua tarefa, meus irmãos, alguns primos e eu, sentávamos em circulo ao seu derredor na varanda de apuração no engenho de cana, para ouvir as mesmas estórias que já sabíamos de cor. O mais gostoso era ouvir sua gargalhada após cada causo contado. Ele gargalhava de boca aberta mostrando a campainha e nós também rindo não do causo, mas de seu espetáculo parecia que se preparava para engolir um boi.

Contava ele o causo de três patetas preguiçosos que saíram à procura de determinada fazenda. Onde poderiam viver na maré mansa sem trabalhar. Diziam que o proprietário muito rico tratava de todos. Sem nada exigir em troca. Os três, mundo afora em busca deste paraíso. No caminho encontraram um lobo morto, resolveram prestar-lhe uma homenagem. Decidiram então; cada um teria que dizer algumas palavras; dizia o Zé Antério que era uma décima que cada um diria. Nunca consegui entender o significado deste termo aplicado por ele. O primeiro disse: este lobo quando era vivo comia mais cru do que cozido! O segundo também disse: este lobo quando era vivo andou mais descalço do que calçado! Então rematou o terceiro: este lobo quando vivo tal qual aconteceu morreu porque se morre só uma vez! –, kuá. kuá.kuá kuá. Pensa acabou, acabou não! Eles seguiram viajem chegaram a uma grande fazenda lá estava o monjolo socando! Descarregaram seus revolveres nele enchendo sua cabeça de balas até o bicho parar com o peso do chumbo. Chamaram o fazendeiro dizendo: matamos um bicho que comia fubá num cocho e banhava o rabo na água, vamos conferir!- O homem explicou isso não é bicho é madeira chama monjolo trabalha pra gente transformando milho em fubá pra fabricar farinha.

Olharam uns aos outros e disseram:- sabe de uma coisa aqui não é lugar pra gente vamos embora, se até madeira tem que trabalhar que diremos nós!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 26/07/2010
Reeditado em 26/07/2010
Código do texto: T2399836
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