A SANTA VIRGEM VIVA
A SANTA VIRGEM VIVA.
- Entrando no ar em edição extra, atenção, atenção anicuenses, acaba de falecer em nossa cidade o Sr. Herculano Oliveira, de mal súbito. Repetimos acaba de falecer o Sr. Herculano, pessoa querida por todos. (Nota está precedida e tendo também com fundo os acordes da Ave-Maria, música que marcava sempre os avisos fúnebres).
Ninguém se motivava muito com tais anúncios, somente Dona Das Dores, que só de ouvi-lo, entrava em prantos, escalando as fala-juntas para saber o que estava acontecendo com maiores detalhes, e detalhar era o forte delas. As meninas foram num pé e voltou no outro, trazendo com gritarias a novidade:
- Mãe. O Sr. Herculano da Roberta morreu mesmo, né.
- Morreu de que?... Fala logo praga!...Indagava-lhes impacientemente Dasdores, ou melhor, este era o seu estado natural: impaciente.
- Ah mãe, dizem que foi parada do coração.
- Meu Deus, chama logo o Dr. Dione que meu coração também está querendo parar. Nem foi preciso chamá-lo, só de ouvir os acordes ele dirigiu-se para casa da cliente.
- Como é Das Dores, já deu uma morridinha de mal súbito.
- Não Doutor, mas acho que desta vez eu vou morrer. Esse tal de mal súbito mata?...
- Sim Das Dores, só se o mal estiver muito mau.
- Doutor então me dê logo remédio para esse troço?...
Passada alguns dias, a Roberta procura a sua amiga Das Dores e morrendo de vergonha, conta com toda a timidez o seu segredo.
- Das Dores escuta aqui, depois de quarenta anos de casada, desde que eu morava lá no Goiás, trabalhando na casa do seu irmão, Tônico, que eu tenho uma vergonha danada de lhe contar tudo que aconteceu comigo, ou melhor, o que não aconteceu... Falou estas palavras e saiu em desabalada carreira sem concluir o que queria. Como sua amiga, sem perda de tempo, a Sra. Das Dores saiu atrás dela. Chegando a casa dela, foi recebida com muita amizade.
- Como vai amiga, conta tudo que aflige conta.
- Sei não Das Dores, acho que não devo contar.
- Porque não deve contar?...
- Das Dores, você sabe né, eu sou muito religiosa, sou Filha de Maria...
- Tudo bem Roberta, até aí nada de mal...
- Você sabe né, Virgem Maria, eu tinha um pacto religioso com o Herculano e devido a sua religiosidade, aquele santo homem, durante nosso casamento de quarenta anos, respeitou o pacto com uma dedicação e uma hombridade sem fim...
- Oh amiga fala logo deixa de suspense...
- É, a Virgem Maria minha padroeira santa, me ajudou, me protegeu, me conservou santa como ela...
- Como?...Interrogou meio pasma, muito surpresa, sem entender de imediato o que havia acontecido.
- É Das Dores sou como a Virgem Maria, eu sou virgem...
- Nossa mãe, que surpresa. Quem mais sabe?...
- Só você, as outras pessoas que sabiam já morreram, era minha saudosa mãe e o meu marido Herculano,
- Mas como ele tolerou tudo isso por tanto tempo?...
- Por amor, ele sabia desde que quis casar comigo. Nunca me molestou, respeitando todos os dias dos anos, todos os anos de nossa vida nupcial.
- Mas porque você fez isso?
- Minha mãe nasceu escrava, minha vó também, pediram, portanto que encerasse o circulo de procriação, pois no entendimento delas, era a única maneira de encerrar o circulo escravista em nossa família, elas não acreditavam no governo, pensavam que escravidão mais dias, menos dias poderia voltar...
- Incrível, um fato desses em pleno século XX.
- É minha flagelação foi entendida pela Virgem Maria, sempre que a vejo durante as minhas orações, ela está sorrindo para mim.
Goiânia, 26 de FEVEREIRO de 2010.
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