O XEXEU DA SUZI!



É um amontoado de gente, na repartição. Pessoas de todos os tipos, modos de falar... Cada uma trazendo curiosidades em sua maneira de ser e por isso mesmo provocando curiosidades e falatórios...
O Rocha é circunspecto, calado e atento, cheio de cerimônia, tanto nas reuniões mais formais quanto nas informais... Não é bonito, mas se fosse não seria notado, sempre esta de barba por fazer, roupas em desalinho, bem á vontade...
O Valdo ao contrário, cheira a perfumes caros, sapato engraxado, sempre brilhante. O Valdo esta sempre alinhado, aprumado,é bem falante...
Não esta muito clara a existência de uma rixa entre ambos, mas entre cordialidades aparecem vez e outra certa animosidade.
As coisas se complicam quando se trata do relacionamento com as mulheres da repartição, até um acordo foi feito:
Você não mexe com as minhas meninas disse o Rocha, certa vez para o Valdo, e este com seu sorriso de hiena, retrucou bem rápido: E você não mexe com as minhas...
Parecem dois bichos machos á procura de fêmeas...
Como se homens e mulheres fossem apenas bicho!
E os anos foram se passando, o Rocha e o Valdo se encontrando e desencontrando pelos corredores da repartição...
E as mulheres também foram mudando, umas novas foram admitidas, outras transferidas, outras saíram para outras repartições ou para cuidar em outras bandas das suas vidas.
Um dia, no entanto, uma nova funcionária chegaria para atrair a atenção... E principalmente do Rocha e do Valdo.
Era uma mulher branca e encorpada, logo apelidada de Suzi, com olhos cor d’água marinha.
E nos dias seguintes da sua entrada na repartição, travou relações com o Rocha.
E este se transformou da água pro vinho... Mais alegre e mais falante, chegando até a ser brincalhão...
E conversa vai e conversa vem, saiu à história do xexeu da Suzi!
E eram sobre o tal xexeu as conversas o dia inteiro. E mesmo entre as mulheres o xexeu da Suzi se transformou em assunto.
Mas o que seria este tal xexeu?
O que sei é que os comentários estavam quentes, acalorados, apimentados, como é de costume das pessoas da repartição, entre os homens e as mulheres que ali trabalham diuturnamente.
E o falatório estava rendendo, o Rocha todo cheio de pudores e o Valdo cheio de saliências...
A verdade é que o xexeu da Suzi era quente!
Que o xexeu da Suzi era bem macio!
E quem comesse do xexeu da Suzi não o esqueceria nunca!
Pior, a Suzi não tem pudores... E nem papas na língua, já deu de seu xexeu a quem o quis experimentar... E como já o deu, para quem quiser, o dará! Mas, com uma ressalva, daria de seu xexeu para uma pessoa de cada vez...
A Suzi é nordestina, e xexeu deve ser palavra de lá!
E como tantas palavras vindas desta região, xexeu poderá ser tudo, ou poderá ser nada também...
Só sei que quando fala do seu xexeu a Suzi fica ruborizada, as mãos ficam suadas, e parece que fica alterada a sua respiração...
E as mulheres da repartição ficaram de olho na Suzi, pois ela não deveria bolir com ninguém, com nenhum dos homens que trabalham ali...
Aquela repartição era desde muito tempo território delas, e a Suzi era uma ameaça em potencial...
E o tempo estava passando, a Suzi estava mais falante, mais alegre, vestia-se com mais cuidado, rescendia a perfumes caros...
Seria coisa do Valdo?
E assim, a curiosidade tomou outro vulto na mente do Rocha, o Valdo não poderia ter bulido com a Suzi, ou teria?
E as histórias corriam soltas na repartição, a Suzi e o seu xexeu... O xexeu da Suzi era uma sensação!
Um dia o Valdo chegou na repartição e logo já vieram falar-lhe que a Suzi tira dado o xexeu, para fulano e beltrano.
Um sentimento de raiva foi dominando o Valdo, teria o Rocha comido o xexeu da Suzi?
E assim começou uma corrida de gato e rato... O Valdo estava de olho no Rocha, e o motivo era o xexeu da Suzi!
Ao mesmo tempo, a Suzi parecia outra, sempre alegre e muito falante, ruborizada... Desviando olhares, fala insinuante!
Sua atenção estava focada no Rocha! E este lhe correspondia!
Teve uma tarde em que o Valdo pegou a Suzi falando baixinho com o Valdo, teve a impressão de ouvi-la dizer ao rival, que lhe daria o seu xexeu...
Será?
E assim, Valdo pois os dois olhos em cima de Rocha e de Suzi... E seus ouvidos estavam atentos...
Era quase no fim do expediente, quando Valdo como uma ave de rapina, viu a Suzi falando com o Rocha, aos cochichos... Vou chegando mais perto, visto o quanto estavam distraídos, chegou a tempo de ouvir um fim de frase; - amanhã, você come de meu xexeu...
Estava chegando a hora de pegar aqueles dois em um fragrante... Valdo sabia que a esposa do Rocha pegava pesado e ele não teria como pular a cerca sem um bom planejamento...
Quanto a Suzi, sabia que não poderia chegar tarde em casa pois morava muito longe e era perigosa a região onde morava...
Como era bom falar com todos, sempre sabia muito da vida de todos, sem ser um bisbilhoteiro... Enquanto o Rocha era bem mais tímido, ele com seu jeito direto gozava da amizade e das confidências de todos...
Era quinta-feira quando ouviu estas confidências... Na sexta a Suzi faltou na repartição... Tudo ficara para outro dia...
Veio à segunda, e Rocha se acercava de Suzi, cobrando-lhe a promessa quebrada...
Veio à terça, e Suzi fugia do Rocha...
Na quarta-feira, não mais agüentado a insistência do Rocha, chamou-lhe a um canto e lhe fez a proposta:
-Ás cinco, naquela sala vazia do segundo andar! Não falte, senão...
Era onze da manhã, quando o acordo foi feito, e Valdo não mal podia conter seus pensamentos...
Imaginava Suzi toda pronta, a espera do parceiro, com aquela pele alva, quente e certamente perfumada...
Imaginava aquele parvo do Rocha entre os afagos dela...
Tocando com a boca moca, o xexeu da boneca!
Imaginava aquele tonto, com raiva, dando um tapa na peteca.
Afogando o ganso!
Chutando o pau da barraca...
E chegava a transpirar de raiva!
Mas Valdo estava a espreita, já era quatro e meia da tarde, a hora chegava...
O casal não notou que o Valdo estava a espreita, e colocaram o plano em ação...
Subiram juntos ao segundo andar...
Abriram uma porta, cerrando-a ás costas quando da entrada...
Não notaram a chegada de Valdo, que pé ante pé se encostara a porta, a guisa de ouvir o que lá dentro se passava...
Rocha, meio nervoso recomendava a Suzi, que se sentasse, e Valdo escutava...
Suzi achou por bem abrir as pernas, e falara para o Rocha, e Valdo escutava...
Rocha não se agüentava de desejos, e murmurando ansiava pelo xexeu da Suzi em sua boca...
E Valdo que espreitava, não se agüentado de ansiedade fez barulho atrás da porta fechada... De dentro da sala vozes roucas encetavam:
-Guarda, guarda! Era Suzi quem falava!
-Agora?
Agora com o xexeu todo na boca, escorrendo em meus lábios... Pensou o Rocha em desespero...
-Guarda, guarda... Suzi gritava...
Foi quando o Valdo entrou sala adentro, desesperado...
Olhos se arregalaram... Incrédulos do que viam que ali se passava...
Suzi tinha entre as pernas entreabertas, uma vasilha redonda cheia de bolo... E cada bolo era recheado...
Rocha estava entalado com o tal xexeu na boca, todo lambuzado de doce de leite...
Valdo estatelado na porta, mal cria no que via, que em nada era o que tinha esperado...
Valdo caira na armadilha!
Quem era agora o esperto, e quem era agora o parvo?
Eu só sei que o xexeu da Suzi, desde daquele tempo virou história!


Edvaldo Rosa
www.sacpaixao.net
http://edvaldorosa.blogspot.com/
22/07/2010