O CABOCLO E O CHEQUE
Com a chegada da ferrovia, finalmente o progresso estava batendo a porta do pequeno povoado, o comercio estava se fortalecendo e até uma agencia bancária se instalou no lugarejo. O gerente, uma pessoa muito comunicativa veio com a finalidade de conquistar novos clientes e alem dos comerciantes que já trabalhavam com o banco, abriu dialogo com os lavradores, procurando facilitar de tal forma a abertura de contas e propondo o financiamento das lavouras, o que foi difícil pois os agricultores do lugarejo ficaram ressabiados pois estavam acostumados com o autofinanciamento, não necessitando de dinheiro de banco para o plantio de suas lavouras.
Diante do alvoroço que tal informação provocou um caboclinho metido a sabichão que morrendo de curiosidade foi até a agencia para uma conversa com o gerente sobre este tal financiamento, vai daí que o gerente muito bom de lábia, convenceu o rapaz abrir uma conta corrente e a depositar no banco os cobres que mantinha guardados consigo, mostrando a ele as vantagens e os perigo de se ter dinheiro em casa. Persuadido o sertanejo concordou com as falas do gerente sendo que a grana que matinha sob sua guarda era na realidade era uma bela quantia, pois mão de vaca que era, deixava de comprar as coisas para guardar dinheiro.
Após uma semana, o sertanejo retornando a cidade já se considerando amigo do gerente, passou pelo banco para prosear e ver como andava as coisas. Lá teve uma bela surpresa pois como todo bom cliente, foi agraciado com um talão de cheques ao qual o gerente muito gentilmente explicou a vantagem de se trabalhar com cheques, isto representava um avanço para os habitantes daquele lugarejo, informou que não precisaria usar dinheiro e que poderia comprar de tudo e pagar com cheque, assim de posse desta novidade, o caboclinho saiu todo garboso da agencia, pois agora tinha um Talão de Cheque e na sua maneira simples de entender as coisas agora poderia comprar o que quisesse com uma simples folha de papel assinada por ele.
No comercio, o homem fez altos e bons negócios, comprou uma charrete Nova, seu sonho a muito tempo, a bela mula marchadeira que o compadre pedia o olho da cara, mas agora com cheque que importava isso! Comprou ainda os arreios, ferramentas, e até deu uma escapadinha na casa amarela, uma casa de mulheres da vida que existia no lugarejo e do qual vez por outra danado dava suas escapadinha escondido logicamente da esposa, pois dizia sempre que era preciso variar um pouco de vez em quando, ainda mais agora que era cliente do banco e tinha um talão de cheque, muito embora não entendesse direito destas coisas pois como uma simples folha de papel tinha tanto poder de compra mas estava maravilhado com o belo negocio havia feito, colocou seu rico dinheirinho lá no banco e agora podia comprar de tudo com o cheque, e se sentia cada vez mais orgulhoso.
O pobre sertanejo só não sabia que diante de tantas bens adquiridos, o seu saldo bancário abaixou vertiginosamente, entrando no vermelho, o que preocupou o gerente do banco que procurou o cliente para que cobrisse o saldo devedor de duzentos contos de reis. Informado da situação, o caboclinho não entendendo nada dessas transações financeiras, só sabia que o gerente havia dito que ele poderia gastar o quanto quisesse com aquele pedaço de papel chamado cheque, não titubeou, com muita calma meteu a mão na algibeira sacou o talão e emitiu mais um no valor de duzentos contos de reis, assinando-o entregou ao gerente dizendo:
_____ Si era só isso que fartava, puis intão não farta mais nada sô! Tóma! Pode depositá na minha conta.