Reminiscências 16
Primeiro par de sapatos
Uma antiga propaganda de lingerie afirmava com certa sabedoria: “O primeiro sutiã a gente nunca esquece” Alguém se lembra?
Sempre quando me lembro do meu primeiro par de sapatos, esta propaganda também me vem à memória.
Naquele tempo, as crianças começavam a freqüentar escola somente a partir dos 6 ou 7 anos e foi justamente nessa minha idade que isso aconteceu.
Na semana que antecedia minha “estréia” na escola (Grupo Marquês de Sapucaí, em Delfim Moreira), meus pais foram à cidade e compraram um par de sapatos pra mim, da afamada marca VERLON, fabricada na cidade vizinha de Itajubá.
Esta marca não era famosa por ser a melhor, a mais bonita ou a mais cara não. Adquiriu a fama, justamente pelo contrário. Era do tipo “marca barbante”, era muito feio e a maioria das pessoas de menor poder aquisitivo usavam (como era o nosso caso).
Pra se ter uma idéia, era fabricado puramente de uma borracha preta e quando em contato com o suor dos pés produzia um chulé insuportável.
Era cheio de furinhos na parte superior que, penso até hoje, tinham a função de exalar aquele odor horrível.
Bem, mas eram os meus primeiros sapatos e eu estava muito orgulhoso deles.
Mesmo porque só vim reparar nessas suas “qualidades” depois de algumas idas e vindas da escola, o que só ia acontecer na semana seguinte.
Naquele final de semana, fomos a uma festejo na casa dos meus tios João Eva e Maria, e eu fui “autorizado” por minha mãe a usá-los. Que felicidade!!!
Ainda me lembro do quanto eu “esnobava” meus primos com aqueles sapatos novos. Vez em quando eu reclamava: “Puxa estes sapatos estão apertados”, só pra chamar a atenção. Santa ingenuidade!!
Pois bem, as aulas começaram e eu tive enfim a oportunidade de “desfilar” minha nova conquista pra muita gente, claro.
Os anos passaram e novos sapatos de melhor qualidade vieram, mas eu nunca irei esquecer daqueles dias. Tempo em que os pais não se preocupavam em dar o melhor para os seus filhos, e sim o necessário para o seu desenvolvimento, por isso eram tão valorizados.
Hoje, quando ouço expressões do tipo “Vou dar ao meu filho tudo aquilo que não tive”, fico com pena dessas crianças, que certamente nem ao menos saberão reconhecer o valor daquilo que estão recebendo.