Reminiscências 15
Frio, trabalho e recompensa
Desde pequenos, algumas tarefas nos eram passadas por nossos pais a fim de que se cumprisse a rotina de obrigações na fazenda onde morávamos.
Uma dessas tarefas era trazer as vacas até o curral, para que meu pai e meus irmãos mais velhos pudessem ordenhá-las.
Uma missão até que não muito difícil a não ser quando chegava o inverno.
Tudo parecia mais difícil, a começar para sair da cama. Realmente era de doer!
Por volta das 7:00 h, estávamos em pé e, após um breve café, saíamos pelas trilhas pasto afora em busca dos animais.
Era, e ainda é comum, cair muita geada naquela região montanhosa onde nascemos, no sul de Minas.
A vista era maravilhosa! O sol começava a despontar entre as montanhas e o branco da geada no pasto, adquiria um tom indescritível. Mas duro de agüentar mesmo era o frio, principalmente para mim que sempre fui desprovido de gordura. Vivíamos com os “carcanhás” sempre rachados.
Após subir uns morros, topávamos com as vacas deitadas junto aos pés de araucária, que dormiam ali para se protegerem do frio.
Meu irmão Sebastião tinha o hábito de deitar no lugar das vacas tão logo elas levantassem, a fim de absorver um pouco de calor que elas deixavam no local.
Adotamos a “técnica” rapidamente. Era uma sensação maravilhosa!
Em seguida, descíamos o morro gritando e correndo atrás das vacas, até como forma de esquentar um pouco.
Ao chegarmos no mangueiro, já estava tudo preparado para a tiragem do leite.
Mas o melhor da “festa” viria em seguida: Cada um tinha sua caneca com açúcar cristal (vez ou outra até Toddy tinha) para tomarmos com leite tirado na hora. Quanta felicidade, meu Deus!!
Ainda hoje, sinto o gosto daquele leite espumante e doce, quando estas lembranças me vêem à memória.
Não havia limites, tomávamos o quanto podia e até ficávamos com “bigode branco”.
Alguns questionamentos também ficam com relação a tudo isso, nos dias atuais.
Considerando que estávamos na faixa de 7 a 10 anos de idade, nossos pais não seriam denunciados por “explorar o trabalho infantil”, considerando ainda que aquela era apenas a primeira tarefa do dia? Além de tomarmos leite sem ao menos ferver, claro.. Aí eu pergunto: Como é que sobrevivemos?
Atualmente fala-se muito em defender os direitos das crianças e dos adolescentes, mas se esquece de falar em obrigações.
Seria uma das causas atuais de tamanha falta de consideração para com o trabalho dos outros e desvalorização das coisas mais simples e necessárias da vida? Não sei...