O ULTIMO ENCONTRO
Eram tempos difíceis para os moradores do sertão, as cidades ficavam distantes e os meios de transportes mais rápidos eram os cavalos e mulas, porem caso precisasse levar muita bagagem, o negocio era enfrentar o carro de boi em viagens intermináveis, pois para ir até a cidade poderiam levar até uma semana de marcha pela estrada boiadeira afora. Certa vez me deu na telha de fazer uma viagem até a cidade a pretexto de vender os meus produtos e fazer uma compra de fazenda para a família toda. A viagem deveria demorar em torna de sete a dez dias pelos meus cálculos. Levei Maria e as crianças que eram todas pequenas, foi uma verdadeira aventura sertão afora, mas fazer o que, a vida de sertanejo tem dessas coisas, e assim fizemos e deu tudo certo como planejado e até que foi uma bela de uma viagem. De volta, após ter caminhado por dois dias, quando na tarde do terceiro dia, já passava do meio dia, entramos numa reta da estradão e a mais ou menos quinhentas braças, avistei um carro de boi que caminhava a nossa frente. Olhei fixo e disse pra Maria:
_________ Aquele é o carro do Tico.
Maria me repreendeu:
_________ Carro do Tico, tu ta lerdo das idéias homem? O que estaria fazendo Tico por estas bandas?
_________ É, pode ser, mas que é o carro do tico é.
Tico era o meu cunhado, casado com a única irmã, a Adelaide e desde que embrenhei por estas bandas nunca mais tive noticias deles, mas como por uma intuição, aquele era sem duvida alguma o carro do Tico e isso me dava esperança de ter noticias daquele povo que deixei a tantos anos atrás. Viajamos o resto do dia na perseguição do carro e ao cair da tarde, o carro que ia a frente parou num ponto de pousada e assim o nosso carro conseguiu alcançá-lo e para espanto de todos a minha suspeita estava certa, aquele realmente era o carro de Tico e não estava vagando sozinho, a irmã e os filhos estavam juntos, pois a família estava de mudança, haviam comprado umas terras no sertão e estavam indo para lá.
Aquela foi uma noite atípica e de muita alegria, cantarolamos ao som da viola do cunhado, colocamos em dia as informações. Maria teve noticias de seus entes queridos, ficamos sabendo que a irmã mais velha havia se casado com o capataz de seu pai e que viviam na fazenda. Ficou feliz ao saber que o pai não gostou de nossa fuga, mas que não esboçou qualquer sentimento de vingança ou de perseguição e que até hoje ainda não se conforma em não encontrar a filha fujona mas que não guarda rancor do ocorrido, enfim fomos dormir altas horas da noite e no dia seguinte, logo de manhã, ao nascer do sol, levantamos acampamento e seguimos viagem juntos até certo ponto, quando, numa encruzilhada, peguei a estrada que me levaria ao meu lugarejo e o carro do cunhado tomou rumo por outra estrada que supostamente o levaria a sua propriedade a léguas de distancia dali. Nos despedimos e nunca mais nos encontramos e nem sequer noticias tivemos um do outro.
E assim vovô termina mais este causo de sua vida, contado sobre a sombra da bela e frondosa arvore no terreiro de casa onde passava horas a fio, sentado numa cadeira com almofadas, esperando o tempo passar.Após a narrativa, emocionado com as lembranças, ainda pude ver uma lagrima caindo de seus olhos mas ele fez de tudo para esconder este seu sentimentalismo.