O LOBISOMEM

Todos os dia Ze Bunitinho marcava presença no boteco, estivesse calor ou frio, tempo de estiagem ou chuvarada, ao abrir a venda o comerciante sempre deparava logo com o Zé Bunitinho e tinha este nome não por acaso, era um sujeito asqueroso, de bonito não tinha nada, vivia molambento, roupas suja, feridas e arranhões por todo o corpo, raramente tomava banho, tinha uma tosse crônica e vivia escarrando pela rua, talvez pelo uso exagerado do fumo e sobre esta figura marcante, corria na cidade o boato de que ele era um lobisomem e como os causos correm de boca em boca nas cidade pequenas e as histórias de assombrações e almas penadas se espalham como fogo em palheiro, a cidade toda conhecia o Zé Bunitinho, e as crianças cortavam volta de medo e encontrar o do dito cujo homem que só pela aparência já metia medo em qualquer um.

Como toda historia popular tem seus fundamentos, dizem que ele por ser o sétimo filho de uma prole de onze rebentos se transformava em lobisomem, e até havia pessoas que diziam ter sido testemunhas oculares dessas metamorfoses nas e sexta feiras de lua cheia e que o fenômeno era mais freqüente no período da quaresma. Quando interrogado sobre o boato, Zé Bunitinho não dizia nem que sim, nem que não e saia pela tangente cantando desafinado “Abre a porta Mariquinha”

Apesar do falatório do povo ele era uma pessoa que fazia parte da vida e da história do lugarejo onde todos viviam como uma grande irmandade, apesar de cair sobre o ombro do pobre homem esta maldição, ele não representava perigo algum para a comunidade, pois se não ajudava ninguém mesmo por não ter condições física, mental e nem financeira para tal, também vivia quieto em seu canto e não bulia com a vida alheia, diziam até que era herdeiro de uma maldição descendência pouco nobre, se limitando a comer côco de galinhas a noites de lua cheia embaixo dos puleiros, era preciso só ter cuidado redobrado os pais que tivessem em casa alguma criança que não fosse batizada, ai sim, este correria risco de ser atacado pelo famigerado animal.

Com tantos comentários a respeito deste mistério de Zé Bunitinho, as historia começaram a atazanar as idéias de um morador que viera a pouco tempo morar no povoado, era de uma cidade grande, um advogado, com outra cultura, homem letrado e não acreditava de jeito nenhum nas doideras do povo simples do lugarejo, dizia ser pessoas que não tinha coisa alguma a fazer e ficavam inventando historias mirabolantes para preencher o tempo. Vai daí que certo dia o homem sabichão, morador de uma bela chácara nas proximidades do povoado apareceu na venda a fim de comprar munições para sua espingarda cartucheira, reclamando que um estranho animal estava atacando seu galinheiro a noite, acreditava ser gato ou cachorro do mato porem, como era período da quaresma, um dos fregueses que ouviu a sua conversa e sabendo da sua incredulidade caçoou

______ Cuidado com a ispingarda dotô, num vá dano tiro a torto e a direito, primero veja o animar, vá que seja o Zé Bunitin que virô lubisomi! O dotô pode inté mata o desinfiliz do homi sô.

O incrédulo homem deu um sorriso sarcástico e num ar de soberba, perguntou ao sertanejo como deveria agir então, mas pelo tom da conversa, já indicando que não tomaria atitudes insensatas

_______ Ah é faci, o dotô observa bem, se for um bicho peludo, tive farejano o chão debaxo donde as galinha tão impulerada pra dromi, é lubisomi na certa, qui puraqui só tem Ze Bunitinho, oferece prele um prato de sar grosso, é suficente prele sai correno só que fique atento, notro dia bem cedinho ele vai aparecê na casa do dotô pra buscá o sar que o sinhô prumeteu.

O homem, mesmo depois de ouvir os conselhos do freguês, foi embora sorrindo com ar de superioridade e levando munição para a caça, indícios de que não tinha dado ouvidos para o matuto, não dando o braço a torcer para os conselhos do experiente sertanejo. No outro dia cedo, um belo sábado, ao abrir o estabelecimento, o comerciante deu de frente com o incrédulo homem que adentrou boteco adentro e foi logo dizendo

_______ Me vê logo um quilo de sal grosso, não é que o infeliz do Ze Bunitinho chegou logo cedo lá em casa para buscar este bendito sal.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 08/07/2010
Código do texto: T2366642
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