Hamilton dos Santos, brasileiro, casado, 53 anos, pai de família: profissão Cidadão - CAPÍTULO XVI
XVI
Aquele dia de festas cujo objetivo era motivar reflexões sobre o tema da cidadania, fora a última vez em que o tratorista Hamilton se encontraria com a senhora Telma Sueli. Desde então ninguém mais ouviu falar dele. Voltara, talvez, para a sua vida de herói anônimo.
É provável que esteja simplesmente manobrando um trator ou uma retroescavadeira em algumas das muitas ruas e vielas da cidade de Salvador, cumprindo a sua sina de trabalhador e de cidadão brasileiro.
Os heróis – os verdadeiros heróis brasileiros – se encontram mesmo por aí nas ruas ou em suas casas, nas fábricas e lavouras, nas muitas vielas que cortam e aprofundam este país verde-amarelo. Eles não precisam se apresentar semanalmente na mídia para que sejam lembrados ou reverenciados.
Eles se acham inscritos e guardados – e muito bem resguardados, aliás - dentro do peito e do coração de cada um de nós. E muitas vezes são suficientes um movimento breve ou um simples sinal para que voltem a nascer e a fazer cumprir os seus difíceis destinos.
Nesses momentos a vida humana volta então a brilhar e a se erguer como uma extensa construção: são momentos que se vão levantando, se sobrepondo e se impondo uns sobre os outros.
A presente história versou sobre um desses instantes de luz, um momento único na vida de seu Hamilton e da Palestina, um bairro da periferia de Salvador. Buscou-se registrar aqui os fatos e os acontecimentos que se dispuseram em torno da figura desse homem que soube como poucos ouvir as verdades guardadas em seu coração.
Eis, portanto, um momento da vida de um homem de 53 anos, casado e pai de família. Era tratorista, mas sua profissão será sempre a de ser cidadão brasileiro.
- FIM -