Hamilton dos Santos, brasileiro, casado, 53 anos, pai de família: profissão Cidadão - CAPÍTULO XII

XII

Minutos depois que o senhor Hamilton saíra conduzido pela viatura policial, um segundo tratorista fora contatado pelos oficiais de justiça no objetivo de concluírem o serviço que lhes fora determinado. Mas também esse segundo operador de máquinas se recusara a cumprir as determinações constantes da ordem judicial.

Pouco depois fora a vez de um dos sócios-proprietários da empresa JLD mandar recolher a retroescavadeira. Segundo ele, se lhe tivesse sido comunicado que a máquina seria utilizada com aquela finalidade, teria se recusado prontamente a alugá-la.

Passava das dezoito horas quando as pessoas começaram vagarosamente a se dispersar daquela autêntica praça de guerra: guerra de nervos e guerra do capital e da propriedade privada contra o trabalho.

Os oficiais de justiça, a polícia e toda a comunidade presente havia permanecido reunida por cerca de doze horas diante da casa de número 123 da Rua Direita.

Aquela batalha durara nada menos do que a metade de um dia. Mas a grande vitória havia sido o fato de não terem presenciado a demolição das casas. As famílias haviam ganhado mais uma noite de sono em seus respectivos lares.

Para alguns aquilo poderia até parecer pouco. Mas não para aquelas pessoas que quase tiveram suas casas derrubadas. Elas passaram todo o restante daquela noite com o pensamento em Deus e no desejo de que as coisas se resolvessem da melhor forma possível no dia seguinte. No entanto, havia o receio de que tudo voltasse a acontecer de novo.

Por aquele fim de tarde, entretanto, os oficiais de justiça haviam definitivamente encerrado o cumprimento da diligência. Tiveram que suspender a execução da mesma tanto por falta de equipamento técnico quanto pela ausência de operadores de máquinas, ficando por enquanto adiada a demolição das casas e a reintegração de posse do terreno.

Os oficiais ainda relataram ao juiz da 12ª. Vara de Feitos Cíveis da Cidade de Salvador a respeito de todos os fatos ocorridos no bairro da Palestina naquele dia 02 de maio de 1993. Terminavam se colocando respeitosamente no aguardo de novas determinações do juízo.

A última notícia daquele dia: o oficial de justiça que havia determinado a prisão do senhor Hamilton resolvera revogar a mesma. As circunstâncias do caso haviam extrapolado em muito os níveis de uma simples diligência judicial, promovendo um desfecho e um destaque inesperados nos acontecimentos e em referência à pessoa do tratorista.

Luís Antônio Matias Soares
Enviado por Luís Antônio Matias Soares em 28/06/2010
Reeditado em 30/06/2010
Código do texto: T2345525
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