O MORTO QUE NÃO MORREU

Morava com minha família no Rio Grande do Sul. Eu tinha nove ou dez anos de idade e nesta época cursava o antigo primário quando aconteceu este caso que passo a narrar:

- Nossa cidade era pequena e muito atrasada em todos os aspectos. No único hospital local foi dado certo dia como morto um cidadão mas, que na verdade, havia sofrido de Catalepsia(Catalepsia patológica é uma doença rara em que os membros se tornam rígidos, mas não há contrações. No passado já existiram casos de pessoas que foram enterradas vivas e na verdade estavam passando pela catalepsia patológica).

Mesmo tendo morrido no hospital, os médicos pediram uma autópsia. Como na cidade não havia Instituto de Medicina Legal mandaram vir um legista da capital. Desta maneira o corpo foi levado para o necrotério que ficava dentro do cemitério. Deixaram o cadáver em cima de uma mesa de mármore onde já havia outro. Os dois de pijama e coberto por lençóis.

Como já era tarde fecharam a porta do necrotério com o cadeado e também o portão principal do cemitério. A família foi avisada e começaram a providenciar o enterro.

Lá pelas tantas o homem voltou a si. Vendo-se ali, com um cadáver ao lado gritou muito mas ninguém ouviu. Sem poder sair pegou o lençol que lhe cobria, sentou em um canto com medo e adormeceu.

Pela manhã o administrador chegou e foi abrir o necrotério. Qual não foi o susto pois deixou o cadáver deitado e encontrou-o sentado em outro lugar. Deu um grito de pavor e saiu correndo para a rua no que o sujeito dado como morto despertou e também correu para a rua.

Já que estava fora resolveu ir para casa onde estavam todos os parentes e vizinhos a espera do corpo para começar o velório. Eis que o mesmo chegou à porta. Foi aquele “salve-se quem puder”. Nem mesmo a viúva ficou dentro da casa pulando a janela,junto com os demais.

Depois de todo este alvoroço, sem saberem direito o que estava acontecendo acionaram a polícia para esclarecer o ocorrido. Finalmente, desvendado o mistério, o que seria um velório virou uma grande comemoração com muita alegria.

Como estes fatos aconteceram no Rio Grande do Sul tudo acabou num belíssimo churrasco com direito a tudo e o contentamento do morto que não morreu.

Di Assis

01/06/2010

Di Assis
Enviado por Di Assis em 25/06/2010
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