Carlinhos e o arco-íris
Era uma Estrada pequena, empoeirada, estreita ao ponto de não caber dois carros de passeio ao mesmo tempo.
Era uma tarde de verão, uma tarde destas que o sol abre espaço para chuva fina, postando assim o famoso ditado dito por não sei quem “Sol e chuva, casamento de viúva”.
Carlinhos tinha um passa tempo curioso. Quando chegava perto das 16h00min ele saia de sua casa e andava sem rumo por aquela estrada que nada tinha de exuberante aos olhos comuns e as pessoas comuns, mas Carlinhos não tinha olhos comuns, por mais que seus olhos fossem castanhos como os da maioria, havia naquelas bilhas um brilho diferenciado que naquele momento eu não conseguia decifrar de onde vinha.
Estrada da Servidão, era o nome daquele caminho sem fim, ali só havia um vilarejo, um rio e muita poeira.
Carlinhos sempre preferiu observar, que falar, por isso no colégio tinha poucos amigos, era conhecido como o “mudinho”. Ele não era uma pessoa comum, pois olhava para os arrozais os canaviais de uma forma que eu não enxergava, dizia que via deslumbre no verde, no azul, marrom, e no branco, suas cores prediletas.
Foi no dia 04 de Dezembro de 1981, a vinte oito anos atrás que ele desapareceu.
Fez neste dia uma ultima caminhada e nunca mais foi visto, lembro-me como se fosse hoje nossa ultima conversa, esta se deu na beira de um rio pequeno que ele costumava chamar de “Pequeno Gandhi”, me disse que estava em busca da felicidade e que iria seguir aquele arco-íris que apareceu em meio ao “Casamento de Viúva”, tinha um olhar sereno, fixo e brilhante, olhando para aquele fenômeno que depois de alguns anos fui aprender que eram devidos os raios de sol cruzar as gotas da chuva.
Mas ate hoje prefiro acreditar como o Carlinhos me ensinou naquele dia disse ele:
O arco-iris é a vestimenta de DEUS e no meio dele existe uma abertura para a terra da felicidade.
Prefiro acreditar nisto, que Carlinhos seguiu aquelas cores naquele dia e encontrou o caminho da felicidade, pois desde aquele dia nunca mais se viu o Carlinhos.
Acreditar nisso me deu a possibilidade de acreditar nos meus sonhos todos esses anos, que sim eles são possíveis e que tudo esta na forma que acredito, que na verdade os obstáculos na vida não são o problema e sim os caminhos errados que muitas vezes eu escolho.
O Carlinhos me ensinou que tudo esta na forma que vejo as coisas.
Ainda continuo com um olhar comum, mas só que hoje ouso olhar algumas vezes com outro olhar as coisas, um olhar humano. Descobri que toda vez que olho com um olhar humano as coisas transcendo o material para o espiritual.
O diferencial do Carlinhos era isso ele tinha um olhar que a grande maioria não tem e isso percebo nos dias de hoje ele somente tinha um olhar humano.
Guido campos
(24/06/2010 – no caminho do trabalho- rodoviária de Tremembé –SP, após sair de uma sessão no dentista.)