Hamilton dos Santos, brasileiro, casado, 53 anos, pai de família: profissão Cidadão - CAPÍTULO IX
Diante daquela multidão impondo a palavra "pare" e de uma família desesperada por estar sendo despejada, o senhor Hamilton só conseguiu dizer o seguinte:
- Eu não posso fazer isso. Não posso fazer uma coisa dessas...
Aconteceu então o que ninguém esperava. Aquele homem simples, aquele tratorista pobre que viera de longe para efetivar o serviço determinado pela Justiça, começou a chorar.
Empalidecido, trêmulo e transtornado, o operador de máquinas apenas silencia e chora. Procura secar as lágrimas no pano surrado da sua camiseta de trabalhador brasileiro. Em certos momentos retira nervosamente e torna a colocar o seu boné azul sobre a cabeça abatida.
- Eu não posso fazer isso – tentou se explicar novamente – não é direito. Isso não é direito!
Em seguida desligou o veículo e desceu vagarosamente.
- Não posso fazer isso – repetira uma terceira vez assim que firmara os pés no solo firme - sou um pai de família, tenho nove filhos. Isso poderia estar acontecendo comigo e eu não acho certo. Não é direito! Não é direito e não é certo! Eu cumpro a lei, mas não consigo fazer esse trabalho! Está além das minhas forças e das minhas possibilidades. Não posso derrubar a casa de um pai de família e de um trabalhador como eu.
Nesse momento, entretanto, o tratorista se viu diretamente ameaçado por um dos oficiais de justiça:
- Se o senhor não demolir a casa, vou mandar lhe prender - afirmara o oficial Carlos Cerqueira.