O menino que perguntava demais

Era uma vez ... Ops!

Desculpem, mas esta não é uma estória da carochinha. É uma história real, de um menino bem real e que perguntava demais.

João era muito perguntador. Sua primeira palavra foi ‘poi tê?’ (por quê). Aliás, a única coisa comum em João era seu nome.

Como um questionador nato, João não se contentava com o blá, blá, blá dos livros e estava sempre colocando em dúvida as informações que deles tirava. Por ter tantas dúvidas João sempre lia muito e quanto mais lia, mais dúvidas surgiam na cacholinha de João.

As pessoas sempre diziam a João o que ele devia fazer, quando e como devia fazer. Ele sempre querendo saber por quê, mas ninguém sabia dizer. E as perguntas só aumentavam.

João tinha um caderninho onde anotava todos os seus questionamentos, e às vezes quando os relia, se perguntava por que havia se questionado sobre aquilo.

Eram tantas perguntas que ele se perguntava por que ele era assim. Por que não era como os outros meninos, que jogavam bola pelo puro prazer de brincar, e não ficavam se perguntando quem havia criado as regras, e quem disse que essas regras teriam que ser assim, e por que não poderiam ser diferentes. E em seu caderninho continuava a anotar suas perguntas, que só aumentavam.

A mãe de João já havia se habituado ao seu jeito de ser e ao fato de nunca ter as respostas que João gostaria. Mas as outras pessoas estranhavam muito, e geralmente se afastavam dele logo nas primeiras perguntas. Por causa disso ele estava quase sempre sozinho, e se perguntava por que as pessoas se afastavam dele só por ele ser diferente da maioria. E lá ia ele para o caderninho:

- Quem foi que disse que ser ‘normal’ é ser igual a maioria?

O grande problema de tantas perguntas é que João nunca encontrava as respostas. Ele se acostumara tanto a questionar tudo que quando se deparava com o que poderia ser uma resposta, até dela duvidava.

Quando João se apaixonou pela primeira vez, não conseguiu entender o por quê. Se perguntava como poderia gostar de alguém tão diferente dele. E se perguntava o que era o amor. Aliás, existe o amor afinal? Com tantas questões em jogo, a namorada de João terminou o namoro, acreditando que João não conseguiria jamais gostar de alguém.

Os anos se passaram e as questões de João só aumentaram. Algumas se repetiam, mudando apenas de contexto. Outras até se modificavam numa tentativa vã de encontrar as respostas.

João se tornou um homem muito culto, estudado. Em todos os meios de informação ele buscou as respostas.

Um dia, já velhinho e doente, João acordou pela manhã e sentou-se em sua cama com a estranha sensação de ter encontrado uma resposta. No entanto, essa seria a única resposta para todas as perguntas que havia feito em toda a sua vida. Estranhamente a resposta era uma pergunta:

- Me faz feliz?

João percebeu que em todas as vezes em que se questionou sobre alguma coisa ou situação, nunca havia perguntado o principal. Ele sabia que as perguntas é que moviam o mundo, mas percebeu que a principal pergunta teria movido o seu mundo. Por que afinal, o que importava se o que ele acreditava era ou não a verdade maior, se o fizesse feliz? Todas as vezes em que João se sentiu feliz questionou a própria felicidade.

Nesse momento ele pegou seu caderno e escreveu sua última pergunta. E, com um suspiro aliviado, João desejou de todo o seu coração que as pessoas se fizessem sempre essa pergunta, que na verdade era a única resposta que ele encontrara. João sorriu e riu da ironia da vida.

Seu caderninho foi enterrado consigo e em sua lápide foram escritos os seguintes dizeres:

“João, o menino que perguntava demais e encontrou uma única resposta: - Me faz feliz?”

Moral da história: Às vezes a gente passa tanto tempo tentando entender o sentido da vida e se esquece de vivê-la.

Por Luciane Honorato Pereira

17/06/2010

LuPenelope

Lu Penélope
Enviado por Lu Penélope em 22/06/2010
Reeditado em 01/04/2011
Código do texto: T2334502
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