O dia que perdemos a taça

Eu nem queria lembrar mais, mas naquela tarde quente de domingo de 12 de julho de 1998, estávamos em Paris, e qualquer um com quem se comentasse o fato reagia com indagação.

- Como assim? Quem em sã consciência gostaria de esquecer uma tarde belíssima em Paris?

As mulheres como sempre, pensando em compras, e romantismo medieval na cidade luz, nem prestam atenção no sofrimento de um revés de três gols a zero sofrida pela seleção canarinho naquele momento. Insensíveis.

- E você estava naquela final?

Em uníssono, as pessoas que se encontravam diante da mesa me olham com espanto.

- Mais ou menos...

Gaguejei. Afinal, eram tantos olhos indagativos sobre mim. E as coisas começavam a piorar. Estavam todos me fitando como um interrogatório policial.

- Como assim? Mais ou menos? Ou se está ou não está?

Eu não sabia como sair daquela sinuca de bico. Estava me sentindo como um Materazzi com uma cabeçada no peito, mas isso era de outra copa, igualmente esquecível para a seleção amarela.

- Fui à França ver a copa. E não vi dois jogos apenas.

- Quais?

- Contra a Noruega, pois já estávamos classificados...

- E o Brasil perdeu.

-... E a final.

- Por que diabos uma criatura vai à copa do mundo e perde a Final?

- Agora vai dizer que pensou que já estava garantida a taça?

- Não! Imagina! Eu, jovem de dezoito anos, na frança...

Não cheguei a completar a frase, o restaurante todo já estava correndo atrás de mim. Afinal o Brasil perdera a copa por minha causa, já que estivera fora nos dois jogos que a seleção perdera. Menos mal que não precisei explicar que perdemos a taça por causa de outra taça, ou melhor meia-taça.