O doce azul
Dona Maria é uma mulher velha. Dessas que têm coque e tudo mais. Sentada na sua varanda da tão sonhada Terra do Pássaro, relembrava o quanto sua vida tinha sido boa. Costumava passear nas ruas de sua cidade morta, mesmo nos mais afastados bairros, onde as crianças brincam na rua e as mulheres fazem as unhas na porta de casa. Não achava os domingos feios, as árvores sem ninhos, as pessoas sem coração. Apenas vivia lentamente uma melodia de música. Quando todas as pessoas que amava se foram, achou que iria morrer. Pois, como podia, uma hora você faz planos para abraçar mais, trocar mais palavras, e noutra hora, isso se torna impossível, além das suas forças? Dona Maria olhava o céu cheio de estrelas. Ela deve ter virado uma durante uma noite silenciosa. Afinal, ela já estava acostumada com a solidão dos contempladores e ao enigma dos astros que brilham apenas por existir.
Agora os pássaros cantam olhando para o céu.