A MÁ NOTÍCIA (Parte ll)
A MÁ NOTÍCIA (Parte ll)
No texto anterior Biu Sulino estava na casa da amante quando recebeu a notícia da fuga dos presos. Neste episódio ele busca ajuda na cidade vizinha.
Depois de umas Três horas de marcha, finalmente chegaram à delegacia de São Luiz. Desceu do cavalo, amarrou-o numa mangueira em frente a entrada, e subiu apressado os degraus do prédio. Um soldado que estava na porta lhe reconheceu e o cumprimentou.
- Boa tarde seu Biu! O que o trás por essas bandas?
- Boa tarde Felizberto! O delegado Ciço Rumão se encontra?
- Sim senhor. Pode entrar que ele está lá dentro no escritório.
Biu já era conhecido de todos por ser cabo da polícia militar e responder pela delegacia de Flexeiras.
Naquele tempo era comum os cabos e sargentos ocuparem o cargo de delegado. Ainda não havia uma profissão definida como hoje onde todo delegado tem formação em direito e só entram por meio de concurso público. Na época, era preciso apenas ter uma patente maiorzinha que soldado e amizade com algum político. No caso de Biu, era isso, delegado nomeado pelo prefeito, coronel Ludrugério Barbosa, primo em terceiro grau de sua esposa Dona Suzana.
- Delegado Biu Sulino o que o trás aqui meu companheiro? Disse o delegado Cícero, ao vê-lo entrando em sua sala.
- Um episódio difícil de lhe contar caro amigo, mas que necessita de vossa ajuda pra se resolver.
- Diga do que se trata pra eu poder avaliar o problema e ver se tem solução.
Biu contou que na noite anterior tinha fechado a delegacia às oito horas e foi pra casa como era de costume. Por volta das duas da manhã deu um estalo em sua cabeça pedindo pra que ele fosse à delegacia. Levantou da cama e foi até lá. Quando se aproximou notou que a porta estava escancarada. Entrou e viu a bagaceira. Os presos tinham fugido e deixado tudo revirado no interior da cadeia. De imediato foi seguindo os rastros que rumavam pras bandas da mata do lajedo, mas não teve êxito na jornada. Quando o dia já ia clareando encontrou alguns rastros e conclui que eles vinham pra bandas de São Luiz por isso vim pedir ao amigo que me ajude nessa empeleitada.
- Quantos fugiram? Perguntou Cícero.
- Uns dez. Entre eles tava: Zé galinha, Chico de Lôla, Ratueira, Tra-la-lá, Bacalhau e Silvano seboso. Todos elementos de alta periculosidade.
- Nessa quantidade fica meio difícil da gente capturar todo mundo, mas vamos tentar!
- Só vim lhe abusar porque meu único ajudante, o soldado Sipriano Martins, teve que ir à capital para o casamento da irmã e só deve voltar na segunda-feira.
Se preocupe não meu amigo vamos começar as buscas imediatamente.
- Felizberto! Gritou Cícero Rumão.
- Pois não meu comandante! Respondeu de imediato o soldado que se encontrava na porta da delegacia.
- Vá chamar Adoniran e Rafael que estão fazendo a segurança do aniversário da neta do prefeito, e diga que é pra vir urgente. Vamos sair numa diligência sem hora pra voltar.
- Sim senhor meu comandante é pra já.
Com poucos minutos os soldados estavam prontos para a missão. Subiram todos no carro oficial, que já estava parado ao lado da delegacia, e partiram em direção da mata.
A viatura era um Jipe velho, do ano de mil novecentos e bote força com os pneus lisos que só azulejo lusitano. Na lataria do veículo, onde a vista alcançava, só se viam armações e buracos de ferrugem. A cor do veículo era indefinida e a capota parecia lona de circo pobre, remendo pra todo lado. Não tinha freio e nem o farol do lado esquerdo. O pára-brisa era quebrado, os bancos rasgados por unhas de gatos, que aproveitavam as altas horas da madrugada pra fazerem deles, um ninho perfeito. Bateria era coisa cara e rara naqueles tempos. Pra pegar, era só no empurrão. A única coisa que ainda prestava naquele bólido em fim de carreira era o motor.
O delegado sempre se gabava ao dizer que dentro daquele possante tinha mais cavalos que a fazenda do coronel Almeida Fragoso, dono da usina Lajedo.
A procura pelos bandidos estendeu-se noite a dentro. Por volta de uma hora da manhã, o delegado Cícero propôs ao amigo que retornassem à cidade para descansarem e voltar no dia seguinte, pois com tudo claro, seria mais fácil achar alguma pista dos fugitivos. A proposta foi aceita por todos, e assim fizeram.
Ao chegar em São Luiz, Biu pegou seu cavalo e tomou o rumo de casa, mas antes combinou com Cícero, para no dia seguinte logo cedo se encontrarem na entrada da mata do lajedo que fica entre as duas cidades. Assim ficaria mais fácil pra ele se deslocar de Flexeiras e encontrar-se com o grupo.
Cícero insistiu pra ele dormir na delegacia de São Luiz, mas ele disse que precisava voltar a Flexeiras pra dar notícias ao prefeito e acalmar o povo que a esta altura devia estar apavorado...