O dia em que a nega perdeu o jogo
Para falar a verdade ele não passava de um tremendo perna de pau e o pessoal o colocava para jogar somente quando o jogo estava fácil.
No fundo no fundo quando ele não aparecia o fim de semana não era o mesmo. Apesar de ser mais ruim que pinga de litro, ele era um cara divertido e sem ele na rodinha aos domingos a cervejada não tinha graça.
E naquele dia o jogo estava valendo troféu. O adversário era lá da Vila Maria, e os cara não eram bobos de bola não.
O técnico coçou a cabeça e comentou com o goleiro:
----Caracolas! Só tem o Neco no banco de reserva hoje!
----E o resto do pessoal?
---- O Marcelo e o Thiago estão machucados, o Fabinho teve que trabalhar hoje, e o Esquerdinha está viajando.
----Fazer o que! Vamos se virar com o que a gente tem!
E é nessas horas que acontece justamente aquilo que a gente torce para não acontecer. O jogo pegando fogo, dois a dois, faltando três minutos para acabar a partida e um dos jogadores torceu o joelho.
O Técnico olhou para o banco de reservas e, completamente desolado, a única coisa que avistou foi o Neco sentadinho, de braços cruzados, esperando que o técnico o chamasse para entrar.
---- O que se há de fazer? Não tem outro jeito mesmo, seja o que Deus quiser!!! –
Que dureza! Jogar com Neco era o mesmo que jogar com um a menos. O negócio era se defender do jeito que desse para segurar o empate até o fim e tentar ganhar o jogo nas cobranças de pênaltis.
E foi ai que aconteceu o impossível. A trinta segundos do final, com o adversário bombardeando o time da casa na tentativa de desempatar o jogo, a bola me sobra para o Neco na lateral direita da quadra e ele, do lado que estava apontado o nariz, meteu um bicão na bola que atravessou toda a quadra e foi morrer no fundo da rede adversária. Não precisa nem falar. A festa durou a tarde toda. O Neco nunca recebeu tantos tapinhas nas costas como naquele dia. E a sua felicidade aumentou ainda mais quando o presidente do time o chamou no meio da roda e deu-lhe de presente o troféu que haviam ganhado graças ao seu gol salvador.
Naquele dia o Neco chegou bebaço em casa. Não cansava de mostrar o seu “Oscar” para a família. Narrou o seu gol umas duzentas vezes. Até que, tomado pelo cansaço, deitou-se no sofá da sala e dormiu abraçado com o troféu.
Já passava da meia noite quando a nega acordou o artilheiro e berrou:
---- Como é que é nego? Da para você largar essa merda desse troféu e ir lá para a cama? Já é quase uma hora da manhã?
O Neco abriu apenas um olho. Abraçou bem forte o troféu, virou a bunda para o lado da nega e sem dar a mínima importância para ela, continuou roncando feito um boi zebu.
Naquela noite a nega teve que dormir sozinha.