O CAUSO DA MULA NOBREZA

Era uma noite quente de verão, como de costume os vizinhos se reuniram em casa para conversar com vovô já de idade. A prosa na varanda estava animada e nesta noite fomos contemplados com a visita do Seu Zeca, surpresa para todos pois um tanto sistemático o homem não atinava a visitas porem era um velho conhecido de todos na redondeza, um proseador nato e seus causos eram contados com requinte caipira, apesar de contar suas vantagens, as vezes um tanto exageradas, com referencia a tudo que possuía. Vai daí que no ardor do prossório um dos vizinhos ali presentes contou a respeito da compra de uma mula que havia realizado na semana anterior foi quando o loroteiro, aproveitando a oportunidade, sentiu-se na obrigação de narrar um fato acontecido com a sua mula de estimação, um velho animal que todos no bairro conheciam muito bem mas que o homem tratava com xodó.

“Chii ! oia gente, mula iguar a minha Nobreza, puraqui e num raios de cem léguas não encontrei nenhuma ainda, e acho que num vô incontrá tão logo e o amigo mi perdoa, num quero bota oio gordo nos negócio de ninguem mais iguar a minha Nobreza tá pra nasce. Com ela num tem tempo quente não! Só proceis tê idéia, dia desses tava vindo da cidade e passano im frente a fazenda do Seu Serafim, os mininos dele tava cuidano do gado e tinha um torinho amuado no pasto, assim bem pertinho da estrada, já na porteira que desce pra sede, ahhh! quando vi aquela labuta, e eu gosto de vê os pião lida cum gado, parei a Nobreza e fiquei um tempão veno os rapais tentano alevanta o bicho e leva para a mangueira e num tava conseguino, quando vi que já tavam quasi desanimano, num güentei e perguntei:

_______ Oceis qué uma ajuda ai?

Eles oiaram discunfiados, mais os cuitados tavam cansados pur dimais da conta e com a camisa tudo moiada por causa do esforço da lida, foi quando um deles me arrespondeu disanimado

_______ Ahh! Seu Zeca, ele é muito pesado pra pô na carroça e já tentamo de tudo jeito, modique para levar este diacho para a mangueira, acho que só matano.

Foi intão que pulei da carroça, abri o piquete que dava pro pasto onde o tourinho tava deitado amuado e disse preles:

_______ Qui nada, num é priciso pô na carroça não, ponha esta corda no pescoço do iscomungado e amarre ali no exo da carroça que a nobreza leva de arrasto.

Eles me oiaram, meio quereno qui duvidá, e apercebi que não tavam botando fé na minha mulinha, intão si eu falei:

_______ Bom! ocêis quem sabe, mas pode fazê do modo que to falano, ocêis num conhecê a força da Nobreza, ela vai leva na marra este boizinho na mangueira, pode inté iscreve o que tô dizeno.

Mesmo não aquerditano, mais é aquela véia istória que sempre digo: perdido por perdido, truco! Resorverô atrelá o danado do boizinho na carroça conforme havia dito, depois de tudo pronto, tomei as rédeas e dei ordens pra mulinha:

________ Vaaaamos Nobreza!

Gente do céu, esta mula se esticô toda, deu um um solavanco e saiu cavucano o chão com as patas de trais, o danado do torinho ainda esticô as patas pra frente como quem dizia: daqui num saio, daqui ninguem me tira. Mas qual o quê homi, a Nobreza nem tomo cunhecimento, foi arrastano o animar, tamém, quando chegô na mangueira a mula tava moiadinha de suor qui chegava inté pinga no chão e no que oiei pra traiz, levei um baita susto, parecia inté que tinha passado a maquina de fazê estrada da prefeitura no meio do pasto dos homi, as pata do torinho isticada pra frente, enfiô por debaixo da grama e foi arrancano tudo, formô um rolo enorme de capim com raiz, terra e tudo na frente do animar que só oceis veno pra aquerdita.. Qual o quê sô! Mas que o danado do boizinho veio pra mangueira, ah! se veio.

Depois os minino do fazendero qui tamem ficaro de boca aberta coma força da mulinha, agradecero muito e fizero inté uma proposta pra compra a Nobreza, mais qual o quê, essa num tá a venda e si depende de mim vai morre de véia nos meus pasto, num vendo por dinhero nenhum, foi o primero animar que pissuí, e já mi ajudo muito na vida, agora merece discansá asussegada la no pasto, capim num há de fartá préla come e de veis enquando a danada ainda me presta argum servicinho.

Luiza, sua esposa grita lá da cozinha: Zeca, deixa de conta mentira e vamos simbora homi de Deus. Já tá tardi e os minino já drumiram aqui na cozinha.

Os presentes ouviram a narrativa em silencio, ao terminar um deles perguntou:

_______ Esta é a mula que o senhor saiu do povoado na frente da chuva e aos chegar em casa havia molhado somente a metade da mula? Seu Zeca negou:

________ Não, aquele é outro animar que pissui, mais este causo eu conto outro dia que já tá tardi.

O Homem se dando conta do adiantado da hora, retirou do bolso traseiro da calça uma palhinha de milho que carregava para enrolar fumo, leva-a ate a chama da lamparina e com ela acende seu lampião de querosene, se despede de todos desejando uma boa noite e saem, ele com a esposa levando filho nos braços.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 05/06/2010
Código do texto: T2302253
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.