ALMA DE GATO

Existe nos cerrados, capoeiras, e matas brasileiras um pássaro marrom avermelhado de peito da mesma cor, porém mais esbranquiçado bico pardo e olhos com um tom de verde, muito lindos. Se alimenta de insetos,é conhecido como alma de gato.

Na minha infância quando eu vivia a molestar os passarinhos com meus bodoques, meus colegas, e eu, disputava qual era o melhor na contação de um causo. Inventávamos estórias sem pé nem cabeça na mais infantil ingenuidade. Criei uma fábula ao assimilar o pio do sabiá laranjeira com a alma de gato. Ambos têm o hábito de pular de galho em galho ao por do sol. Quando as sombras começam a se espelhar tomando de assalto a face da terra no horário que o sabiá começa procurar seu leito e emitir seu pio alongado que se confunde com o miado de um gato.

Sempre como toda criança eu começava com a tradicional frase: Era uma vez um homem muito mau, cruel mesmo! Morador a beira de uma grande floresta. Seu casebre feito de madeiras toscas amarrado de cipó muito mal barreado com janelas e portas de madeiras mal trabalhadas de um aspecto horrível.

Ninguem se aproximava daquele ser asqueroso, tamanho era sua crueldade. Vivia maltratando os animais, que cruzavam seu caminho.

Certa noite chovia muito, um temporal enorne que se abateu por aquelas bandas, fizera com que um pobre gato se perdesse na mata. Após muito vagar sem rumo deparou-se com aquela desolação horrível onde o monstro habitava. Deu pulos de alegria ao avistar o casebre. Entrou de mansinho e se enrroscou no borralho. Muito cansado não percebeu que o dia amanheceu e perdeu a hora, quando o carrasco o percebeu, dormindo aquecido por sua fornalha, enfurecido e aos berros ele ampanhou o pobrezinho, e adentrou com ele na floresta. Lá bem no meio em uma pequena clareira tampou o pobre animal com uma cuia gigante e o deixou lá preso a miar de desespero. O tempo foi passando e ele sofrendo e miando. Como o gato tem sete vidas segundo narra à lenda, foram sete anos de sofrimento do pobre animal, que a cada ano perdia uma vida. Enquanto isso o maldito continuou praticando suas maldades com todo e qualquer vivente que aproximava de seu casebre.

Um lenhador que tabralhava na mata, sempre ouvia os miados de lamento do pobre gato. Mas por mais que procurasse nunca conseguiu encontrá-lo. Certo dia parou na pequena clareira para descansar um pouco e concertar seu feixe de lenha,que machucava o ombro, quando viu aquele objeto estranho parecido com o casco de tartaruga. Com a lamina do machado ele o removeu. La estava o cadáver do pobre animal deitado com a cabeça sobre as patinhas dianteiras olhando por um pequeno buraquinho que havia na cuia gigante. Deduzindo que só poderia ser maldade daquele monstro horrível ele apanhou seus objetos levou também a cuia e o cadáver do pobre gato. Foi direto se ter com o maldito em seu casebre. Lá chegando o encontrou à porta, sentado em seu velho pilão, fumando seu horroroso cachimbo. Irado o lenhador não pensou duas vezes manobrou seu machado direto na cabeça do monstro para matá-lo, mas o cadáver do gato se transformou na linda ave marrom avermelhada e num só golpe arremessou longe o machado, arrebatado de suas mãos. E se voltando contra o homem mau o atacou com milhares de bicadas, transformando-o magicamente em um velho tronco desgastado. Boquiaberto com o que os seus olhos viram o lenhador apanhou a velha cuia e arremessou contra o tronco no qual ele havia transformado, ela se partiu em milhares de pedaços que se transformaram numa multidão de borboletas das mais variadas e belas cores. Que voaram levitando sobre a floresta empurrada pela brisa que soprava suave. Naquele horário como sol já ia pondo no seu ocaso, e os passarinhos se recolhendo, para completar a sena, veio o sabiá laranjeira pousou sobre o velho tronco e defecou em cima dele, enquanto alma de gato bicava com toda sua magia transformando o casebre em uma enorme touceira de espinhos que mais tarde juntamente com velho e desgastado tronco serviram para sanitário de todas as espécies de animais e aves da floresta. Terminado o grande espetáculo; como as sombras da noite já se espalhavam, o sabiá se juntou a alma de gato e saíram mata afora. O sabiá piando igual ao miado do gato. E foi assim que surgiu a alma de gato essa bela ave que habita a floresta brasileira.

Graças ao lenhador que lembrando que esposa poderia estar preocupada com ele, apanhou seu machado e seu feixe de lenha rumando-se para sua casa.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 30/05/2010
Reeditado em 30/05/2010
Código do texto: T2289782
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