A CONFISSAO DE ELENINHA

Eleninha tinha 11 anos, e havia chegado a epoca, fazia tempo se preparava, para a grande e especial ocasiao.

Fizera por um ano a escola de catecismo, e olha que nao foi facil nao.

Levou algumas penitencias para fazer em casa.

Pois, estava sempre a perguntar, e perguntar sem parar durante as aulas de catecismo.

Teve ate uma vez em que o bondoso Padre Joao em pessoa veio apreciar a aula de catecismo, que a dona Cacilda dava.

A menina nao teve duvidas, aproveitou para perguntar ao amigo direto de Deus, o Padre Joao, como se chamavam os irmaos de Jesus, filhos de Maria.

Ai foi um castigo bem grande que o Santo Padre, lhe deu.

Teria a menina que rezar 30 ave maria, e 30 pai nosso.

Pois, nunca havia visto ele, tamanha heresia na boca de uma crianca.

Ela fez a penitencia direitinho, perdeu a conta, por 2 ou 3 vezes, e teve que comecar tudo de novo.

Pois, sabia que se nao fizesse conforme o padre pediu, nao ia poder receber a santa comunhao.

Mas so que, para o bem da verdade, nao entendia, porque nao podia perguntar certas coisas.

Desde menina Eleninha tinha uma ligacao forte e verdadeira com o Divino, tinha fe, achava a vida fascinante.

Tudo lhe interessava, os insetos, aquele que piscava uma luzinha entao, a encantava.

Os passaros, com tanta beleza em suas penas, e cada um cantando mais bonito que o outro.

A terra macia e cheirosa, do quintal de sua casa.

Ela menina ainda, se encantava, com a sabedoria daquela terra, que aceitava toda e qualquer semente, que fosse depositada nela, e logo, logo, deixava despontar de suas entranhas, graciosos brotos, com cabinhos verdes, parecendo que buscavam a luz, com ansia e alegria.

Ficava admirada com as cores tao variadas das flores no jardim de seu avo, como a margarida podia ter tantas petalas, e os cravos, quem havia posto perfume tao delicioso neles ?

Em maio os vasos de sua vo, enchiam-se de lindos cachos de flores, que tinham o nome de flor de maio, pois sua florada so acontece nesse mes.

Eleninha entao ficava a cismar, mas quem avisa essas flores, que ja e o mes de maio? Como sera que elas nunca se atrasam ou adiantam ?

Enfim sempre atenta a beleza sem fim da natureza, ela sabia que havia algo muito, mais muito maior e especial, que estava alem da humanidade.

Por isso, sua fe era real, morava dentro do seu Espirito.

Somente, nao entendia muita coisa que era dita na aula de catecismo, e ai, sua cabeca ficava confusa, e nao tinha jeito, nao conseguia controlar, e perguntava, perguntava, e dona Cacilda, lhe dava penitencias, e dizia, onde ja se viu, menina mais curiosa e sem nocao.

Eleninha, mesmo curiosa e atenta, era educada, como devia ser em sua epoca uma menina.

Entao, por muitas e muitas vezes, guardou seus questionamentos, e com dedicacao, concluiu seu curso de catecismo.

Chegou enfim, o dia da Primeira Confissao.

Ela acordou cedinho, e nem cafe tomou, era melhor ir em jejum.

Sua vo dizia que, em jejum se pensa melhor, e os pecados, sao lembrados com mais clareza.

Chegou na igreja da vila, e se pos na fila, muitas criancas aquele ano iam fazer a Primeira Comunhao, portanto todas ali estavam para se confessar, pela primeira vez.

Eleninha, na fila, observava, cada crianca a sua frente, se dirigir ao confessionario, se ajoelhar, e comecar a murmurar.

Era rapido, nao demorava mais que 5 minutos cada uma, e ela sentiu o coracao se aliviar, logo, chegaria sua vez, e num instante estaria livre, do peso de todos aqueles pecados, que ja havia cometido em sua curta vida.

A ultima crianca que havia a sua frente, ja estava se confessando, as pernas de Eleninha, estavam bambas, ai ai , pensava, por onde vou comecar.

Pronto chegou, la estava ela, ajoelhada no confessionario, a telinha que separava o Padre Joao, era uma bencao, pois ela mal o via.

Somente escutou, quando ele falou, pois nao Eleninha, pode dizer seus pecados, que Deus por meu intermedio, vai perdoa-la.

Aflita pensou mais uma vez, nao posso esquecer nenhum. Porque do contrario, nao vou receber a ostia sagrada.

E assim comecou ela contando, dos patinhos que afogou no tambor de agua.

Do ninho de andorinha que destruiu junto com seu arteiro primo de apelido Capito.

As vezes que entrou escondida no armazem de seu avo, e enchendo os bolsos de doces, correu para debaixo de sua cama, para come-los em paz, pois achou que ali, Deus pudesse nao ve-la, e os outros tambem nao.

E la ia a menina, contando cada pecado, e os minutos passando, o padre ja nao se aguentando, com tanta travessura contada.

Em certo momento, Padre Joao, lhe diz, agora chega, voce ja esta aqui a contar seus pecados, por mais de 30 minutos, e a fila esta imensa.

Eleninha muito envergonhada corou, mas decidida e sincera, disse ao bondoso Padre: - " Olha o senhor me desculpe, mais ainda restam alguns pecados, e preciso dizer todos, sem esquecer nenhum, porque senao, amanha nao posso receber a Primeira Comunhao"

E o estimado Padre Joao, nao teve outra escolha, que nao a de continuar ouvindo o rosario de travessuras da sincera Eleninha.

Porem, naquele dia na vila o comentario era geral, que tanto pecado tinha aquela menina de apenas 11 anos de idade ?????