FATALIDADE!
FATALIDADE!
(Theo Padilha)
Naquela época, 1930, mais ou menos, a região de Itararé parecia o oeste selvagem americano. As grandes fazendas atraiam todo tipo de gente. Peões, índios, aventureiros, foragidos da guerra, que para ali corriam em busca do ouro e diamante que afloravam das águas dos rios. Gerando a cobiça e a utopia do Colorado. E essa gente se vestia à moda americana. Chapéu de aba larga, botas, coletes, revólveres à cinta e cavalos. Assim como eles viam no cinema. Quando a música não parava, o chapéu não caía da cabeça do mocinho, as balas não terminavam e o cavalo não cansava.
Dário não fugiu à regra. Ele já tinha um tio que estava embrenhado naquela ilusão. Não pensou muito em correr para o Eldorado de Itararé. Órfão e com 19 anos, saiu a pé, tal qual um andarilho do norte do Paraná, para a casa do Tio Damas. Sua barba negra, seus cabelos negros e fartos, no meio de tudo brilhavam os seus tristes olhos. Ele era de média estatura. No garimpo os rapazes criavam uma brincadeira. Era comum vê-los atarracados. Imitando cenas do cinema. E assim que tombavam, o de cima atirava no chão, ao lado da cabeça do outro, jogando terra nos olhos do amigo. E murmuravam frases que viam no cinema.
— Come on! Come on!
— Yes! My friend!
E assim eram os seus dias. Certa manhã Dário quando tomava café, chegou uma sobrinha:
— Tio! Veja o que achei!
— É uma bala de 38, Cláudia!
— Você quer para você?
— Claro que quero, estou sem nenhuma!
Dário colocou a bala no seu trezoitão, deu uma moeda para Cláudia e foi dormir.
Noutro dia foi para o campo. No garimpo havia muita cachaça. Muitas brincadeiras, muita animosidade. Lá pelas tantas, dois amigos começaram a discutir em tom de brincadeira e sacaram suas armas. Dário que estava longe dali, veio correndo.
Já apontando o trinta e oito para um dos rapazes. Para o seu melhor amigo. Disse:
— Toma seu bandido!
— O quê?
Carlos se virou com a arma na mão, mas Dário havia apertado várias vezes o gatilho. E como numa roleta russa o tiro saiu. Letal. Atingindo o coração de Carlos. Bem depressa o sangue manchou a camisa do rapaz. Que caiu no chão.
— Meu Deus! O que eu fiz? – disse Dário assustado. Eu não tinha balas!
— Você feriu nosso amigo! – respondeu Luís segurando o amigo pela cintura.
Ali no garimpo não havia lei. Os seus amigos pediram que Dário fugisse dali o mais depressa possível. Então ele foi contar para o tio Damas. Arrumou suas coisas e saiu apavorado pelo meio do mato. Procurou um de seus irmãos que lhe disse.
— É melhor você se entregar, caso o seu amigo esteja morto!
Dias mais tarde soube que o amigo morreu logo após o tiro, mas que pediu para todo mundo que o perdoasse. Mesmo assim ele viveu sempre contando a sua história. E nunca mais usou uma arma.
Joaquim Távora, 15 de maio de 2010.