Três cavaleiro numa noite escura
A madrugada estava escura, passava das quatro da manhã. havia chovido, mas continuava quente, o céu carregado com nuvens pesadas parecendo que a qualquer momento ia cair um novo temporal. Nós três estavamos em silêncio, apenas o cavalgar lentos dos cavalos podia se ouvir em meio a lama. No horizonte, relâmpagos riscavam o céu, iluminando as nuvens carregadas.
- O jão!!! Gritei - Vem prá frente Homi, tá cum medo de que?
- Tô cum medo dí nada não Gerardo! - É esse cavalo véio aqui, que não anda. Óh! vô dize uma coisa, viu seu pangaré duma figa.... Quando passá meis qui vem o caminhão do frigarifi, vou vende ocê pra ele... Vão fazê de ocê, carne seca. Tá mi iscutando? - O velho animal parece ter ouvido, e empreendeu um pequeno galope aparelhando com o companheiro de viagem.
- O Jão, cê gostou do baile?
- Gerardo, o baile tava bão.., só não gostei duma coisa que ví lá...
- Qui qui foi...?
- Ocê tava de zói na fia seu Titi, e eu queria chama éla pra dança um xote, e ocê não desgrudava déla, ocê sabe que meu coração fica todo atrapanhado quando vê éla na missa cá quéla ropa de fia de Maria, num sabe não?
- Tava não Gerardo! eu só dançei uma veis cum éla e....
De repente o pangaré do meu tio João empacou, começou tremer e babar... Lá no horizonte os relãmpagos continuavam a riscar o céu, cada vez com maior intensidade, e cada vez mais perto de nós.
- Jão, o pangaré empacou, vô mete o reio nele!
- Fais isso não Gerardo, pobre do animar, ele só tá cansado, cê num tá vendo? Óh, íiiii..., tãmo perto da curva da morte, num é bão martratá animar assim não, í, otra coisa, lá na curva da morte tem a capélinha do bom sinhô, vamô pidi pra ele faze esse pangaré andá.
E fomos nos aproximando da curva da morte.
Relâmpagos riscavam o céu, agora já sobre nossas cabeças, um forte trovão e o pangaré relinchou e se pos em marcha, lento, mas seguiu caminho até o centro da curva, onde na margem da estrada haviam construido uma pequena capela para marcar um acidente, e as pessoas rezarem pela alma dos que alí morreram. Por mais absurdo que possa parecer, a capela estava iluminada por uma luz de um branco tao intenso que só quem viu pode acreditar e descrever, eu ví, dentro uma figura vestindo uma túnica azul, ajoelhada, rezava de mãos postas ao céu.
- O jão!!! Gritou meu tio Geraldo - assustado - óia lá na capela tem um homí lá dentro...
- Cadê?
- Tá lá... tá vendo não?
- Tô não, Gerardo!
- O Jão eu vô espurça ele de lá...!
- Vai não moço, se vai arrumar encrenca, e se ele tá armado?
- Vô mete o chicote nele agora!!!
Relãmpagos e trovões agora se misturavam. Meu tio de chicote em punho partiu, na tentativa de fazer o velho pangaré subir o barranco e alcançar a capéla, mas, o imprevisivel aconteceu, o velho pangaré deu relimcho assombroso e partiu em disparada no sentido contrário, pra dentro do mato, só se ouvia os gritos do tio Geraldo pedindo socorro.
- É o Sací... mi acudi Jão.... mi acudi.... O pereque tá qui.. mi acudi, tá sentado o rabo do pangaré! - Na medida em que o cavalo embrenhava na mata, a vóz do tio Geraldo ia desaparecendo, até que não ouvimos mais.
- Ô Gerardo! não é pereque!... é perere...! Mas cadê o bicho ? Cadê ocê Gerardo? A mãi vai me matá se ocê sumí. - Tio João estava desesperado. Tentou seguir o pangaré, mas não conseguiu, a mata fechada e a noite escur apesar dos relãmpago o impediram.
Éssa história não termina assim, meu tio Geraldo foi encontrado entranhado dentro de uma enorme moita de arranha gato ( espécie de planta que tem os espinhos voltados para dentro, para entrar é facíl, dificil é sair ). Como foi parar lá, mais um mistério que nunca foi desvendado. O pangaré foi encontrado três dia depois enrroscado em um cíposal no meio da mata, a crina do rabo trançado de uma tal forma que foi preciso corta-lá, pois nimguem conseguiu destrançar. Meu tio Geraldo, ainda vive, e nunca mais quiz brincar com coisa séria. Ele organizou uma procissão que segue em oração todos os anos, partindo da Igreja Matriz, até o local do acontecido. Isto é, Até a capéla do Bom Senhor, como é conhecida atualmente.
E mistériosamente naquele madrugada, assim que cessaram os gritos de tio Geraldo, a tempestade se dissipou e o dia amanhaceu calmo e ensolarado.