O LOBISOMEM BICHO ESQUISITO

LOBISOMREM BICHO ESQUISITO


Quando eu criança, ao passar perto de uma quaresmeira, meus cabelos despenteados se ouriçavam arrepiados de medo. Quanto mais florida, maior era meu pavor. Fui criado ouvindo histórias mirabolantes de lobisomem. Muitas lendas. Uma dizia que o lugar preferido do lobisomem, era debaixo da quaresmeira.
Segundo o imaginário sertanejo, este ser arrepiante, é um elemento amaldiçoado por sua mãe, que em épocas de quaresma se transforma neste asqueroso monstro. No período da quaresma em noites de sextas feiras, ele vagava pelos poleiros em busca de seu alimento preferido, côcô galego de galinha preta.
Esposas desconfiadas do procedimento dos maridos conseguiam quebrar sua maldição ao feri-los com uma faca feita de chifre ou de um osso da canela de mula sem cabeça.
Ouvi muita lenda na infância cada uma mais assombrosa. Uma delas dizia que estes mutantes metidos a lobos preferiam aprontar suas trapaças durante os quarenta dias da quaresma, época que se abriam os portões do inferno para férias coletivas dos diabos, se espalhando mundo afora comemorando o martírio de Jesus. As quaresmeiras floridas eram seus esconderijos preferidos, o lobisomem percorria os galinheiros recolhendo o côcô galego levando para debaixo da quaresmeira onde o diabo o esperava para degustarem juntos. Uma das lendas começa com tradicional frase:
Era uma vez um povoado cujo nome era Esquisito apareceu por lá um lobisomem assombrando seus moradores. Foram muitos anos de tormento. A população já não suportava mais de tanto pavor. Amedrontados os habitantes pediram ao bispo da diocese, para acabar com a quaresma la em Esquisito, mas o bispo respondeu que isso era com o papa não com ele.
Em pânico os moradores se reuniram para discutir uma solução, ficando acertado que um grupo iria à procura de uma velha bruxa moradora numa ilha que havia dentro de um imenso pântano bem próximo de Esquisito. Sabiam que morava com ela um bruxo, mas ele nunca aparecia, somente ela visitava o povoado para suas comprinhas de gêneros indispensáveis. Afirmava a tradição que o bruxo era um ser asqueroso e compactuava com o diabo acobertando o lobisomem.
Na história do povoado, dizia que o nome Esquisito, era referente ao bruxo. A bruxa vendia suas poções de feitiçaria no povoado. Casamentos desfeitos, e algumas mortes prematuras eram atribuídos a ela.
Dizendo que o marido é quem fabricava as bruxarias não ela; nunca dava detalhes sobre ele. O acesso ao seu muquifo só se dava através de canoa. E assim ninguem se atrevia visitá-los.
Dispostos a solucionar o problema, o grupo escolhido para a tarefa, se dirige para a ilha até então nunca visitada.
Lá chegando o grupo descobriu que o bruxo velho tinha apenas um olho na testa, no lugar do nariz uma orelha, e no lugar da orelha a boca, sendo que o nariz era na nuca e de ponta cabeça com as ventas pra cima. Mais curioso é quando o mesmo cheirava seu rapé e espirrava, seu chapéu voava pelos ares. O casal criava uma manada de porcos alimentados com um tipo de tubérculos, nativos no pântano.
Apesar da aparência horrorosa eles foram bem recebidos pelo casal. Por precaução não se ousaram entrar naquela moradia cheia de pontas de lança, e dezenas de caveiras de animais cujos crânios tinham aparência humana, muitas vassouras velhas e desgastadas, sapos saltando pra todos os lados, corujas de orelhas, morcegos, com seus voejam assombrosos. Um gato preto de olhos de fogo, um horror.
O bruxo até que foi camarada não cobrou nada pela poção que segundo ele, era composta por fígado de minhoca, pestana de morcego, unha de coruja, pêlo do gato preto, saliva de aranha, lagrimas de cobra e vi ceras de sapo. Juntou tudo isso e recomendou que fosse adicionado na pólvora a ser usada para abater o lobisomem, e que não era necessário o uso de chumbo.
Gratificaram o casal com uma quantia em dinheiro e voltaram ao Esquisito. Como aproximava a chegada quaresma, aguardaram cuidando dos preparativos no combate ao lobisomem.
Chegada à hora, na sexta feira a meia noite, foi esperar pelo bicho na primeira residência em seu roteiro costumeiro. Não havia se quer uma casa que ele perdoasse, se tinham galinhas, pretas ou não, o lobisomem assombrava.
Entre os moradores estava um pracinha de guerra, que fora residir no Esquisito, havia pouco tempo de convivência na comunidade, mas o suficiente para conhecer a lenda na qual nunca acreditou. Ele que nada temia depois que sobreviveu a uma batalha, se recuperando com as marcas da guerra, muitas cicatrizes provocadas por estilhaços de granada, jamais iria temer um simples fantasma.
Logo que deu meia noite, com um luar encantador que até parecia ser dia, o bicho apareceu na primeira residência, num grande rumor batendo suas mandíbulas debaixo do poleiro, galinhas voando pra todos os lados e os moradores também, tremendo se bostiando e correndo. O ex-pracinha com sua potente carabina carregada de balas verdadeiras, e com grande experiência mirou bem na testa do bicho e apertou o gatilho. Ele deu um grunhido tremendo, e às cambalhotas e roncos que mais parecia trovões, após muitos pinotes estribuchando aquietou-se mortinho da silva. Decorridos alguns minutos tudo se acalmou. Aos poucos os moradores foram se colocando à cara na janela aqui ali, em fim tomaram coragem e reuniram em torno do animal... Era um monstruoso reprodutor suíno (cachaço) pertencente ao bruxo. Que o soltava por ocasião da quaresma.
Sabedor que era, da antiga lenda ele e sua bruxa velha se divertiam gargalhando diante do pavor dos moradores. Enquanto admiravam o lobisomem, o pracinha que nunca teve medo descobriu os dois se divertindo no alto de um grande pau d'oleo na praça principal de Esquisito.
E assim encerrou o causo do lobisomem.... Gostaram do esquisito?


 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 10/05/2010
Reeditado em 06/09/2017
Código do texto: T2248025
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.